O Melhor do Pior de António Raminhos

“A minha vida é uma comédia!”



O humorista conhecido pelos seus espectáculos de stand up comedy, com o “As Marias”, uma espécie de diário inicialmente documentado em vídeo das suas brincadeiras com as filhas, regressou aos palcos da comédia com “ O Melhor do Pior” e foi neste ambiente de piadas hilariantes e muito riso que fomos encontrar o ex-jornalista d’A Capital e revista Maxmen no passado sábado, 9 de setembro. O Auditório Maestro Manuel Maria Baltazar da AMAL (Associação Musical e Artística Lourinhanense) esgotou e ninguém deixou a sala de espectáculos desiludido. O “Melhor do Pior” de António Raminhos é afinal uma sucessão de acontecimentos na vida do humorista, alguns envoltos numa forte carga dramática, que passam para o público com um cómico revestimento. “ Se calhar é uma defesa minha.” Confessa-nos o humorista.” Mas é a minha maneira de lidar com as desgraças. Elas querem levar-me ao tapete, então eu rio-me delas e digo umas parvoíces.” 


Segue à risca, o lema “ se a vida te der limões, faz uma limonada”? “ isso e não leves a vida demasiado a sério. Nunca sairás dela vivo.” Responde.

Neste “ O Melhor do Pior” Raminhos faz piadas divertidas sobre o seu casamento, a relação com Catarina, sua mulher, o dia a dia das filhas, e até mesmo sobre a sua relação com os pais e doença da mãe que faleceu com um cancro. Rir para não chorar, parece ser mesmo o melhor remédio mas o comediante é exímio em levar os outros a chorar…a rir.

Mas quem é realmente o António Raminhos?

Acho que uma boa oportunidade para me conhecerem é virem ver estes espectáculos. Sei que é uma resposta um bocado básica, mas neste caso, e tendo em conta o “ Melhor do Pior” que eu levo agora ao palco é mesmo o que faz sentido. De qualquer forma posso dizer que sou uma pessoa normal, não ando escondido talvez a única diferença entre mim e a maioria é que eu não tenho vergonha de dizer o que penso.

É pai e ex-jornalista. Portanto tudo o que disse aqui no palco corresponde à verdade, certo? E como é transportar a sua vida pessoal e familiar para o palco?

Não me custa nada. Como disse, não tenho vergonha de dizer o que penso. Sou pai e a grande diferença entre mim e a grande maioria dos pais é que eu digo aquilo que eles pensem mas não coragem para as dizer.



Quando é que nasceu esse gosto por fazer os outros rirem?

Penso muitas vezes que já nasci comediante. Sempre gostei muito de comédia. Só que não a fazia. Via-a apenas, até ir para o desemprego. Nessa altura quando o jornal em trabalhava fechou comecei a escrever comédia e posso dizer que foi o desemprego que me salvou. (risos)

É fácil ser humorista em Portugal ou nem por isso?

É como nos outros países. Fazem-me muitas vezes essa pergunta, mas pelo que converso com comediantes de fora, chego claramente à conclusão que as dificuldades e facilidades são as mesmas. A dificuldade está nas características de cada país, de cada povo.

Mas considera que os portugueses são um povo com sentido de humor ou pelo contrário, somos realmente sorumbáticos, tristonhos, correspondendo na perfeição à tipificação do nosso Fado?

Não. Não somos muito expansivos é um facto, mas até os alemães que são menos expansivos que nós têm comédia. 

E acha que há limites para fazer humor? Há assuntos nos quais não se deve tocar?

Acho que há limites, claro. Mas o meu limite é diferente do limite do outro. Portanto, qual deve ser o limite? Essa questão é muito difícil… 

Por exemplo, a questão com o João Quadros e toda a polémica que deu…

Eu vi essa piada e quando a vi o que disse foi: “eichhhhhhh!” encolhi os ombros e continuei a fazer o que estava a fazer. Não pensei em crucificar, não pensei em dizer que ele é uma besta e que ele ou os filhos dele deviam morrer de cancro, não pensei que ele tivesse dito o que disse porque estava a desejar a morte de alguém, neste caso a mulher do Passos Coelho…mas é muito difícil explicar a uma pessoa que não faz comédia porque é que fazemos as coisas como fazemos. Nós não ficamos ali a pensar “ ai deixa-me cá dizer uma coisa que tenha piada…” não, as coisas surgem. A nossa cabeça já está formatada para um determinado tipo de processamento de pensamentos que é necessariamente diferente de quem não a faz. E isso não implica haver maldade no que estamos a dizer. São coisas que nos passam pela cabeça e às vezes as pessoas precipitam-se a crucificar os outros sem sequer tentarem entendê-los. Em último caso o limite de humor é se tem piada ou não. Mas até isso é relativo porque eu posso achar muita piada a uma coisa e outra pessoa não lhe achar piada nenhuma. Mas em última análise é sempre isso, se tem piada ou não. Agora se alguém tenta fazer piadas com cancros ou com sidas ou com a desgraça de alguém só para chocar… isso para mim já não faz sentido. Se tem piada, não há problema nenhum rir. Rir é uma forma de alívio.

Com o que é que nunca faria uma piada?

Só me faz perguntas difíceis…(risos) Não sei! Não sei com o que é eu nunca faria uma piada. Eu brinco com igreja, e sou cristão e dei catequese…não sei…

Provavelmente não o fará de uma forma ofensiva. O Charlie Hebdo, por exemplo, acha que tem piada?

Nesse registo, eu acho que a intenção é só chocar. Isso para mim já não é humor e estou convencido que O Charlie Hebdo não pretende fazer humor. Pretende chocar. Mas acredito que ainda assim há de certeza quem ache aquilo genial.

Projetos para o futuro? O que é que vem aí?

Vou continuar a fazer espectáculos, vou também continuar na rádio, em breve vem aí uma peça de teatro, o que vai ser muito curioso porque vai ser fora do meu registo. Embora tenha humor à mistura não é uma peça de comédia e vou contracenar com uma actriz brasileira…ups…já estou a falar demais. (risos) Não posso adiantar muito ainda. É possível que fazer também um filme e esse sim, vai ser uma comédia. E gostava de dizer que vou fazer novela, mas não vou. Gostava de fazer novela. Pode ser que surja o convite.

E jornalismo?

Nunca mais! (risos) Meus Deus! Dou graças a Deus por já não estar a fazer jornalismo! Gostei muito de ter sido jornalista porque acho que é uma profissão fascinante mas é também uma profissão muito ingrata. Os jornalistas são mal pagos, pouco valorizados. O trabalho dos jornalistas não é reconhecido. Eu nunca vi o meu trabalho reconhecido. Era sempre maior a pressão de fechar o jornal com muita publicidade no meio das páginas do que perceber se os artigos estavam bons ou não. E infelizmente, nada mudou. Eu continuo a ver o mesmo a passar-se com os meus colegas que trabalham em situações precárias, com ordenados de treta. Para aí, não volto.

É um homem feliz? Realizado?

No plano familiar, sim. No plano profissional, não, porque nunca estou preenchido. Acho que ainda tenho que fazer imensas outras coisas. E no plano emocional também não, mas isso é por causa da minha cabeça. (risos)

O Melhor do Pior de António Raminhos promete continuar a provocar o riso dos portugueses e no Oeste, as próximas gargalhadas estão marcadas para breve nas Caldas da Rainha.
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto

Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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