Arte Por Terras do Bombarral
A descoberta de um património rico em obras de grandes mestres
Dóris Santos e Joaquim Santos não partilham apenas o apelido. Conhecem-se desde a creche, estudaram juntos, foram escuteiros juntos, partilharam o mesmo grupo de amigos, participaram em escavações arqueológicas e ganharam o gosto pelo património. Dóris seguiu História de Arte, chegou a dar aulas e atualmente é coordenadora no Museu Joaquim Manso na Nazaré. A paixão pelo Bombarral e o seu património nunca a abandonou e foi com agrado que abraçou o projecto “ Arte por Terras do Bombarral” no qual se tornou uma das coordenadoras. O outro coordenador foi… o Joaquim. Cúmplice de Dóris em tantos episódios da vida, Joaquim rumou outro caminho, o da arquitectura, que o destino quis que voltasse a cruzar-se com o trilho percorrido por Dóris. Embora a paixão de Joaquim fosse História e Arqueologia, tudo mudou quando descobriu o Património Arquitetónico. Estudou os castelos portugueses, viajou pela Europa e por vários países da América do Sul e Oriente, sempre seguindo o rasto da presença portuguesa no que ainda existe de património edificado. Todavia, foi o Bombarral que também nunca saiu do coração de Joaquim e como o melhor das viagens são os regressos, a cada regresso Joaquim deitava um novo olhar sobre a arquitetura bombarralense.
“Fazia-me pena pensar que o Bombarral não tinha nada de valor.”
É assim que Joaquim Santos começa por descrever esta “aventura” que o levou à investigação do património arquitetónico existente no seu concelho e posterior coordenação do livro “Arte Por Terras do Bombarral”, que foi lançado no passado dia 16 na Biblioteca Municipal. Um projecto que contou com o apoio financeiro e logístico da edilidade e que leva a chancela da editora Caleidoscópio. Mas este livro fala de muito mais do que apenas património edificado. Nele está patente o levantamento do que é também o espólio artístico, grande parte dele em contexto religioso.
Segundo Joaquim Santos, “Havia uma ideia de fazer um inventário. O Professor Vitor Serrão acabou por reconhecer o retábulo da Ermida de S. Brás como sendo de Baltazar Gomes Figueira, um dos pintores mais importantes da sua época em Portugal. Avisei a Câmara Municipal de que eram necessários cuidados extra, uma vez que a ermida estava desprotegida e não se sabia o valor que lá estava. O executivo camarário ficou sensibilizado com isso e pediu a nossa ajuda (minha e da Dóris) para chamar um especialista de forma a perceber-se o que era necessário fazer. Daí surgiu a indicação de que era necessária uma restauração e daí também surgiu a ideia de uma publicação. Nós pensámos: Se temos poucas obras de mestres no Bombarral, vamos chamar os mestres para falarem sobre as obras que existem. Entretanto, para além do Professor Vítor Serrão outros historiadores, como o José Meco por exemplo, vieram ver. Dividimos o património que conhecíamos em vários temas e convidámos os historiadores mais conceituados para trabalharem no reconhecimento das obras incluídas em cada tema.”
O professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Vítor Serrão, devotou boa parte da sua vida a especializar-se nas obras daquele que é considerado um dos maiores artistas setecentistas em Portugal. Baltazar Gomes Figueira, pai de outra pintora conceituada, Josefa de Óbidos, é, a par da filha, um dos nomes de origem lusa que figuram no Museu do Louvre em França.
Dóris Santos e Joaquim Santos não partilham apenas o apelido. Conhecem-se desde a creche, estudaram juntos, foram escuteiros juntos, partilharam o mesmo grupo de amigos, participaram em escavações arqueológicas e ganharam o gosto pelo património. Dóris seguiu História de Arte, chegou a dar aulas e atualmente é coordenadora no Museu Joaquim Manso na Nazaré. A paixão pelo Bombarral e o seu património nunca a abandonou e foi com agrado que abraçou o projecto “ Arte por Terras do Bombarral” no qual se tornou uma das coordenadoras. O outro coordenador foi… o Joaquim. Cúmplice de Dóris em tantos episódios da vida, Joaquim rumou outro caminho, o da arquitectura, que o destino quis que voltasse a cruzar-se com o trilho percorrido por Dóris. Embora a paixão de Joaquim fosse História e Arqueologia, tudo mudou quando descobriu o Património Arquitetónico. Estudou os castelos portugueses, viajou pela Europa e por vários países da América do Sul e Oriente, sempre seguindo o rasto da presença portuguesa no que ainda existe de património edificado. Todavia, foi o Bombarral que também nunca saiu do coração de Joaquim e como o melhor das viagens são os regressos, a cada regresso Joaquim deitava um novo olhar sobre a arquitetura bombarralense.
“Fazia-me pena pensar que o Bombarral não tinha nada de valor.”
É assim que Joaquim Santos começa por descrever esta “aventura” que o levou à investigação do património arquitetónico existente no seu concelho e posterior coordenação do livro “Arte Por Terras do Bombarral”, que foi lançado no passado dia 16 na Biblioteca Municipal. Um projecto que contou com o apoio financeiro e logístico da edilidade e que leva a chancela da editora Caleidoscópio. Mas este livro fala de muito mais do que apenas património edificado. Nele está patente o levantamento do que é também o espólio artístico, grande parte dele em contexto religioso.
Segundo Joaquim Santos, “Havia uma ideia de fazer um inventário. O Professor Vitor Serrão acabou por reconhecer o retábulo da Ermida de S. Brás como sendo de Baltazar Gomes Figueira, um dos pintores mais importantes da sua época em Portugal. Avisei a Câmara Municipal de que eram necessários cuidados extra, uma vez que a ermida estava desprotegida e não se sabia o valor que lá estava. O executivo camarário ficou sensibilizado com isso e pediu a nossa ajuda (minha e da Dóris) para chamar um especialista de forma a perceber-se o que era necessário fazer. Daí surgiu a indicação de que era necessária uma restauração e daí também surgiu a ideia de uma publicação. Nós pensámos: Se temos poucas obras de mestres no Bombarral, vamos chamar os mestres para falarem sobre as obras que existem. Entretanto, para além do Professor Vítor Serrão outros historiadores, como o José Meco por exemplo, vieram ver. Dividimos o património que conhecíamos em vários temas e convidámos os historiadores mais conceituados para trabalharem no reconhecimento das obras incluídas em cada tema.”
O professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Vítor Serrão, devotou boa parte da sua vida a especializar-se nas obras daquele que é considerado um dos maiores artistas setecentistas em Portugal. Baltazar Gomes Figueira, pai de outra pintora conceituada, Josefa de Óbidos, é, a par da filha, um dos nomes de origem lusa que figuram no Museu do Louvre em França.
Na publicação, o historiador aponta que “o retábulo de São Brás é uma das primeiras obras de Baltazar Gomes Figueira que se identificou até agora, executada sobre suporte de madeira", já que depois, passou a pintar sobre tela, constituindo por isso um "importantíssimo achado para a história da pintura portuguesa".
“Já tínhamos a noção de que existia no concelho do Bombarral um património artístico rico mas faltava que viessem mestres dizer que existia. Agora, tendo os historiadores de arte a valorizá-lo não nos pode passar ao lado que ele existe e que tem que ser preservado.” Refere Dóris Santos.
A investigação acabou por determinar a restauração da obra e o município procedeu já à retirada da mesma do interior da Ermida. O restauro decorrerá durante três meses e é intenção da edilidade tenciona vir a criar uma sala dedicada à pintura no Museu Municipal. 22 mil euros para o restauro e cerca de 14 mil euros para a investigação e análise laboratorial efetuado por peritos da Universidade de Évora é um montante que se que afigura pequeno face ao valor real da obra.
No capítulo que cabe a Vítor Serrão, o autor destaca ainda outras duas importantes obras de pintura antiga, também do século XVII, existentes no concelho: a tábua de Santa Justa e Santa Rufina, da autoria de Josefa de Óbidos que decora a Capela da Columbeira, e a tela que representa a visão miraculosa de Santo António de Lisboa, da autoria de Bento Coelho da Silveira, pintor régio de Pedro II.
“Os primeiros passos para o livro foram dados já há dois anos.”
“Eu já tinha algum conhecimento do património artístico do concelho. Já tinha desenvolvido algumas investigações a nível local e elaborado algumas publicações, algumas pequenas brochuras cuja divulgação era muito circunscrita. Já tinha iniciado há vários anos um trabalho de inventário de algumas paróquias e isso deu-me sempre a ideia de que havia campo para se fazer uma publicação mais estruturada com a devida avaliação de especialistas.” Explica Doris Santos e Joaquim Santos completa “Tivemos a preocupação de elaborar uma publicação com uma linguagem que chegasse a todas as pessoas porque sabemos que nem todos os bombarralenses têm uma linguagem académica. Penso que este trabalho foi bem conseguido porque a sala esteve sempre cheia, desde o principio ao fim do evento, e houve muita gente a dizer-nos depois que teve pena de não ter ido. Também é um enorme motivo de satisfação saber que todos os exemplares que levámos para o lançamento foram vendidos logo ali e surgiram muitas encomendas.”
Os coordenadores deste “Arte Por Terras do Bombarral” entendem que “O projecto é de facto inovador no sentido em que o Bombarral é de certa forma um terreno virgem e isto não é o resultado final. É um abrir de portas para o muito que ainda há para fazer.”
Até porque há mais. Os investigadores, cujo trabalho de campo deu origem ao livro afirmam ter feito muitas redescobertas mas também algumas descobertas surpreendentes como a Quinta dos Loridos que poderá ser mesmo obra de Filipe Tércio, arquiteto italiano que nasceu em Bolonha em 1520 e morreu em Setúbal em 1597.
E em termos práticos o que é que muda no que diz respeito a este património artístico do Bombarral?
Joaquim Santos considera que “O livro é sempre algo permanente. Achamos que este trabalho será uma pedra basilar do estudo sobre o Bombarral. Temos uma monografia, publicação de 1939 e agora há esta. Esta publicação não é só para quem estuda o Bombarral, é também para quem estuda a história da arte nacional. Já somos abordados por instituições de nível nacional que querem ter a publicação porque sabem que há investigadores que terão interesse nela. Esperamos também que a população do concelho tenha orgulho no seu património. Neste livro falamos de património de uma forma muito diversificada, falamos até da arqueologia industrial, das placas toponímicas e o que queremos transmitir é que nos devemos unir todos no sentido de o preservar. As pessoas realmente não conhecem a riqueza que têm. Basta referir a reacção das pessoas quando viram as imagens do palacete do Sanguinhal. Ficaram surpreendidas! Os bombarralenses devem orgulhar-se do que têm.” Dóris Santos vai mais longe: “Desejamos que esta publicação não se fique por aqui. Que a nível académico se faça formação de professores, visitas de fim-de-semana, roteiros turísticos, publicações infanto-juvenis que também, são muito importantes. Nas escolas solicitam-me com frequência esse tipo de publicações. Nós fazemos visitas de estudo para os professores e os professores depois precisam de material nas suas aulas. As publicações infanto-juvenis permitem que também as camadas mais jovens conheçam o património e ganhem o gosto por esta área. No 7º ano, por exemplo, os miúdos estudam os hominídeos, as grutas… temos aqui ao lado a gruta da Columbeira que não é referida nas aulas de história.”
E com as próximas eleições autárquicas, a verificar-se mudança de executivo, é de recear que o trabalho já feito até aqui possa morrer? “Esperamos que depois das eleições de 1de Outubro, seja qual for o executivo camarário, que se continue a zelar pela valorização, preservação e divulgação do património. Mais simpósios, mais encontros com os autores… o boletim de Cultura, que já nos foi dada a indicação de que existe a intenção de o retomar. Há possibilidades que se abrem de se fazer algo com o museu, de se fazer algo com os edifícios que estão abandonados…” Refere Joaquim Santos. Por seu lado, a também coordenadora do projeto Dóris Santos, salienta que “Há casos gritantes a nível do urbanismo. Por exemplo, no meu capítulo que é dedicado à arquitetura do vinho percebe-se que muitos dos edifícios que estão degradados no Bombarral são património do sec. XX. Há muito a tendência para valorizar menos o que é mais recente, porque se pensa que a antiguidade é que confere autoridade, confere valor, mas o Séc. XX no Bombarral é a nossa história recente e o Bombarral enquanto concelho tem 100 anos! Portanto, temos aqui edifícios que são o testemunho do que foi o nascimento deste concelho. Edifícios que estão praticamente todos ao abandono.”
Temos aqui edifícios como o quartel antigo dos bombeiros que é um edifício interessante e que também está vazio…o que é que se há-de fazer? Perguntamos.“Para preservar é preciso conhecer. Este livro vem contribuir para dar a conhecer. Relativamente ao património privado, por exemplo, há maneira de não o deixar ruir. Os proprietários têm é que sentir que é mais compensador preservar do que deixar ruir. O interesse em manter pode ser conseguido, por exemplo, baixando o índice de construção. Se vier abaixo, quem reconstruir já sabe que vai reconstruir sempre menos do que lá está. Esta é apenas uma maneira de fazer com que os proprietários tenham mais interesse em preservar do quem em deixar degradar. É preciso haver vontade, criatividade e pressão da comunidade. Tem que haver uma política (para além da legislação) de salvaguarda do património edificado, o que nem sempre é fácil porque tudo o que envolva a propriedade privada torna estas questões muito complexas. Quando os proprietários não se interessam pela reabilitação de um edifício e o mesmo fica em ruínas também põe em causa a segurança pública. Os edifícios mais interessantes do Bombarral estão desocupados e o pior que pode acontecer a uma casa é estar desocupada.” Queixa-se Joaquim.
Projetos para o futuro? Ficou a vontade de fazer algo similar ao simpósio que precedeu a apresentação do livro? “Sim, mas mais desenvolvido para que se possa falar destas temáticas de uma forma mais alargada, até porque ficámos com a ideia de que as pessoas também gostavam de ter feito perguntas. Mas há muito mais que é possível fazer. Para já, fazer este livro chegar a um vasto número de leitores.”
A obra contou a colaboração de 13 especialistas dividindo-se pelo mesmo número de temáticas. Desde a Arqueologia- Da Pré-História à Antiguidade Tardia de Luís Raposo; A Construção do Concelho de João Bonifácio Serra, Azulejaria e Talha de José Meco; Escultura Religiosa de Sérgio Gorjão ou Pintura Antiga de Vítor Serrão. Muito há a descobrir neste “Arte por Terras do Bombarral” que já se encontra à venda nas livrarias.
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste
Comentários
Enviar um comentário