A Crise da Água
Portugueses têm que fazer uso moderado da água e autarquias devem implementar boas práticas.
Há 87 anos que não tínhamos um mês de outubro tão quente e seco. Esta é a conclusão a que chega o IPMA, e que as associações ambientalistas como a Quercus ou a Zero e as associações de agricultores corroboram. São preocupantes os níveis de água nas barragens, albufeiras e charcas. O liquido precioso e do qual dependemos para viver começa também a escassear em Portugal.
Grande parte dos concelhos do Oeste, são abastecidos pela barragem de Castelo do Bode, também ela com níveis preocupantes. A Águas de Lisboa e Vale do Tejo faz a gestão do abastecimento que fica por conta das autarquias assim que as condutas chegam às fronteiras dos municípios. Assim acontece com o Cadaval e Bombarral.
Que os portugueses têm que fazer um uso moderado da água e que as autarquias devem limitar o uso da água em lavagens de ruas e regas a situações inadiáveis, disso já não restam dúvidas e foi exatamente esse o aviso deixado pelo Governo no passado dia 30 de outubro.
Que ninguém se iluda” quanto à gravidade da seca que afecta o país", avisou o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, em conferência de imprensa com o seu colega da Agricultura, Capoulas Santos. Segundo a Agência Lusa, o governante declarou que “Não é por chover dois ou três dias que a situação se vai inverter”, e indicou que vai arrancar, nos meios de comunicação social, uma campanha para promover o uso cuidadoso da água por toda a população.
A primeira prioridade na poupança de água é reservá-la para o consumo humano, indicou o ministro, afirmando que nos últimos lugares de prioridade estão a rega de jardins, o enchimento de piscinas e o funcionamento de fontes ornamentais. Ainda segundo a Lusa, quer Portugal quer Espanha estão a cumprir os valores mínimos de caudais exigidos a ambos os países na gestão de rios internacionais, como o Tejo.
O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, destacou a alimentação e a água para o gado como as principais prioridades no setor agrícola nesta altura e anunciou a abertura de uma linha de crédito para tesouraria dos agricultores no valor de cinco milhões de euros.
“O uso sustentável da água tem que ser uma preocupação dos portugueses”, não só na situação de urgência que se vive hoje, mas também para o futuro”, salientou Capoulas Santos.
Na página do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) ficamos a saber que a quantidade de água armazenada em Julho desceu em todas as bacias hidrográficas de Portugal continental, comparativamente ao mês anterior, No último dia de Julho, comparativamente a igual período do mês anterior, das 60 albufeiras monitorizadas verificou-se uma descida em todas as bacias, de acordo com o boletim de armazenamento de albufeiras do SNIRH. Das 60 albufeiras monitorizadas 18 têm disponibilidades inferiores a 40%.
A 26 de Julho, o Governo reconheceu a existência de uma situação de seca severa em todo o país, sendo que desde 30 de Junho se verifica um fenómeno climático adverso, com repercussões negativas na actividade agrícola. (Pode ler-se em Diário da República)
O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, falando à comunicação social, recordou que o ano hidrológico 2016/2017 se tem caracterizado, em termos gerais, por “um défice de precipitação, valores das temperaturas média e máxima muito acima do normal”, em particular desde o início da primavera, com ondas de calor durante dias consecutivos, baixo teor de água no solo e disponibilidades hídricas abaixo das médias de armazenamento.
Numa altura em que a maior parte do país está em situação de seca, a associação ambientalista ZERO diz que que Portugal desperdiça quase toda a água proveniente das estações de tratamento. (Caixa)
Um levantamento feito pela associação revela que apenas 1,2% das águas residuais tratadas nas estações de tratamento (ETAR) é reutilizada.
Estas águas podem ser utilizadas para vários fins, como a rega na agricultura, lavagem de pavimentos e de viaturas, lavagem de contentores de resíduos sólidos urbanos e ecopontos, rega de espaços verdes urbanos e a recarga de aquíferos ou mesmo a reabilitação e criação de zonas húmidas.
Da análise que efetuou aos dados, a ZERO concluiu que, das 265 entidades que têm a seu cargo a gestão de serviços de recolha, drenagem e tratamento de águas residuais, só 23 entidades têm por prática reutilizar as águas residuais tratadas.
Portugal é um dos países da Europa onde o aproveitamento desta água é mais baixo. Na União Europeia são reutilizados anualmente cerca de mil milhões de metros cúbicos, correspondendo a cerca de 2,4% de água residual tratada. É objetivo da UE chegar aos seis mil milhões de metros cúbicos de água residual tratada.
Os programas existem, mas não saem da gaveta
As medidas de eficiência do uso de água não são avaliadas há cinco anos, como também estão por implementar propostas da Comissão de Acompanhamento da Seca de 2012, diz a associação ambientalista Zero.
A propósito da atual situação de seca que o país vive, a associação reitera em comunicado divulgado, que em 2005 foi aprovado o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA), que foi revisto em 2012 mas que "está na gaveta há cinco anos".
O PNUEA estipulava para o período 2012-2020 limites para o desperdício de água para o setor urbano, agrícola e industrial, para a redução de perdas nos sistemas de abastecimento, tendo sido preconizadas 87 medidas que no conjunto poderiam traduzir-se numa poupança de 100 milhões de metros cúbicos por ano. A Zero considera, no entanto, que "apesar de existirem medidas preconizadas em vários planos, estas dificilmente se aplicam na prática e não refletem a realidade atual".
No setor urbano, esta associação ambientalista estima que apenas cerca de 44% das medidas foram parcialmente implementadas.
No comunicado da Zero pode ler-se que o período de seca idêntico ao atual que o país viveu em 2012, quando foi criada uma Comissão de Acompanhamento e Monitorização da Seca, preconizou um conjunto de medidas para a monitorização e a prevenção de situações de seca. Cinco anos volvidos, nenhuma das medidas "foi efetivamente implementada" o que significa que a maioria das medidas adotadas agora nos Planos de Contingência da Seca, como a não utilização de água da rede pública para lavagens de automóveis e pavimentos ou para a rega de espaços verdes, são já medidas preconizadas, mas não implementadas, no PNUEA.
O mês de novembro chegou com alguma chuva na bagagem mas dificilmente reporá a que nos tem vindo a faltar desde setembro. Se já se conhecem os efeitos das alterações climáticas e se já sabemos que não lhes podemos fugir, como é que se desculpa a inércia dos organismos que têm o único propósito de traçar e implementar planos para a boa gestão dos recursos? Que ninguém se iluda…não é com “danças da chuva” que vamos lá…
Curiosidade:
Em bom rigor da verdade, o planeta não tem menos água hoje do que tinha há 500 anos atrás. Há cerca de 1.362 quintiliões de litros de água no planeta e ela está a circular como sempre circulou. O ciclo hidrológico da Terra é um sistema fechado, e o processo é mais velho que o próprio tempo: evaporação, condensação, precipitação, infiltração e assim por diante. Na realidade há mais água em forma líquida no planeta do que havia há algumas décadas atrás, devido ao aquecimento global e o derretimento das calotas polares. O problema é que a vasta maioria da água da Terra está nos oceanos na forma de água salgada e deve ser dessalinizada antes de ser utilizada para consumo ou irrigação. Dessalinização em larga escala é possível, mas é cara.
Todavia, o mundo também não está a perder água doce. Há muita água doce no planeta. Mas é claro que, como qualquer outro recurso, existe a escassez local, e é esta escassez que tem vindo a piorar. Mover água doce de onde ela existe em abundância, para os locais onde ela é escassa não é um processo simples. A água é pesada e cara para transportar. A água, mais que o aquecimento global, será o grande desafio ambiental que o mundo enfrentará nas próximas décadas.
Boas Práticas
Reduza o volume do autoclismo.
Quando escovar os dentes use um copo de água e feche a torneira.
Prefira o duche ao banho de imersão.
Feche a torneira enquanto se ensaboa.
Aproveite a água fria do duche para rega ou outros usos.
Use um balde e uma esponja para lavar o carro.
Prefira as estações de serviço ao uso de mangueiras.
Quando lavar a loiça à mão, fechae a torneira.
Reutilize a água de lavagem de frutas e legumes para regar.
Lave a roupa em máquinas eficientes e seque-a no estendal.
Use as máquinas de lavar sempre com carga máxima.
Sabia que...
O Homem pode sobreviver sem alimentos cerca de um mês, mas sem água não sobrevive mais de quatro dias?
Todos os seres vivos, dos mais simples aos mais complexos, têm na sua constituição uma elevada percentagem de água. E que mais de 60% do Corpo Humano é constituído por Água?
Para além da sua importância como habitat para muitos seres vivos, a água tem um papel fundamental na respiração e fotossíntese dos animais e plantas?
Quando lava os dentes com a torneira aberta gasta cerca de 20 litros de água e se utilizar um copo gastas apenas 0.2 a 0.3 litros de água?
Se optar por um duche em vez de um banho de imersão poupa cerca de 260 litros de água e se no duche fechar a torneira enquanto nos ensaboa, gasta apenas 25 litros de água? Ou seja, a água que gasta a tomar um banho de imersão dá para tomar 10 duches.
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
Texto: Ana Cristina Pinto
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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