Entrevista: Ricardo Fernandes


“Queremos que haja espaço no Bombarral para a criação e instalação de novas empresas.”



 24 anos depois, o PS volta a estar ao leme da Câmara Municipal do Bombarral. Foi Ricardo Fernandes, conhecido no concelho sobretudo pela sua atividade enquanto farmacêutico que pareceu ter encontrado o remédio certo para o desenvolvimento há muito aguardado pelos bombarralenses. Uma vitória inesperada, mas nem tanto. O Jornal Região Oeste fez-lhe a primeira entrevista depois da tomada de posse no passado dia 23 de outubro.

Estava à espera de ganhar estas eleições?

Sinceramente estava. Atendendo ao facto da situação em que se encontrava o município, existiam vários indicadores que diziam que esta vitória era possível. 

O que é que ao longo do mandato encabeçado pelo Sr. José Manuel Vieira lhe suscitou mais insatisfação?

Os projetos que foram anunciados e que nunca mais vieram a lume. Supostamente até apareceram ideias que foram propagadas, descritas como os próximos acontecimentos a ocorrer no Bombarral e depois os tempos foram passando e nada se realizou. E isso, para mim, enquanto munícipe, foi o que mais me desagradou.

Foi dito na sua tomada de posse que iria proceder à verificação das contas da autarquia e ao apuramento de responsabilidades face a possíveis danos para o município. Já está em curso essa averiguação?

Repare, nós temos pouco mais de uma semana de mandato. Quando uma força política esteve por tanto tempo à frente dos destinos da autarquia, esta transição torna-se extremamente difícil e algo conturbada. Essa averiguação está a ser feita com calma mas de forma eficaz. Resultados ainda não são conhecidos. Como é lógico, os serviços levam o seu tempo a fazer estas averiguações, mas no mais curto espaço de tempo teremos os resultados e tiraremos daí conclusões tanto da área financeira quanto da administrativa.

Relativamente à sua promessa de colocar o Bombarral nos índices de crescimento ao nível dos concelhos vizinhos, essa comparação com concelhos vizinhos é feita com quais concretamente? Estamos a falar de Óbidos? Caldas da Rainha?

Estamos a falar desses mas também estamos a falar da Lourinhã. De facto, o Bombarral em relação aos municípios vizinhos está na cauda dos índices de desenvolvimento. Temos vários problemas no investimento e também na criação de emprego. Quando não há investimento não há criação de novas empresas e logicamente, a seguir não há criação de emprego. Inclusivamente, no que diz respeito aos nossos agricultores verifica-se uma grande falta de apoios ao setor agrícola. E não me refiro aos grandes produtores, porque esses têm as suas associações que os defendem e zelam pelos seus interesses. Os pequenos e médios agricultores preocupam-me porque não têm quem os auxilie a conhecer e a atravessar o mar de burocracias e vastidão de apoios de que podem usufruir.


É por isso que pretende implementar o Gabinete de Apoio ao Agricultor?

Nós dizemos Gabinete de Apoio ao Agricultor como podemos chamar outra coisa mas o que pretendemos é aligeirar as candidaturas, torná-las perfeitamente visíveis e devidamente auxiliadas.

E o comércio tradicional? Em que medida é que pensa auxiliar também aqueles que vivem exclusivamente do comércio?

O comércio tradicional é muito importante para o concelho. Nos últimos anos foi-se extinguindo o que mais uma vez contribuiu significativamente para o aumento do desemprego.

Mas como é que a Câmara poderá na prática ajudar na criação de emprego? Com a redução de impostos para as empresas?

É uma possibilidade, mas apenas a redução de impostos não será suficiente. Tem que haver uma conjugação de medidas para que haja alguma expressão. Tem havido falta de apoio a vários níveis, desde a inovação ao empreendedorismo. Temos que criar respostas para todas essas situações e faz parte do meu compromisso perante os bombarralenses, nestes primeiros 100 dias criar um conjunto de medidas que possam atrair investimento. E por isso pensámos no centro de criação de startups. Queremos que haja espaço no Bombarral para a criação e instalação de novas empresas.

Estamos a falar do “Bombarral INNOVA”?

Sim, estamos a falar do Bombarral INNOVA. Esse é dos projetos que para nós compagina uma necessidade enorme nesta matéria. Repare que o Concelho do Bombarral tem a sorte de estar estrategicamente implantado. Há de certeza outros concelhos que gostariam muito de ter esta localização específica. Estamos no centro do país, perto da capital, ao lado deu uma auto-estrada que nos leva ao norte e ao sul e temos uma linha ferroviária. E nós temos que aproveitar essas vantagens.

Relativamente a uma outra promessa que fez, os medicamentos gratuitos para as pessoas carenciadas, como é que uma autarquia pode garantir tal medida aos seus munícipes?

Não vamos ser inovadores, não vamos ser os primeiros. Esta medida já existe, outros municípios já trabalham com ela. Esta medida não é fruto de uma especificidade minha. O que eu pretendo fazer é apenas aproveitar o que de bom outras autarquias já vão fazendo. Porque não aqui no Bombarral, também? Teremos um programa que engloba várias parcerias que facultarão aos mais carenciados a aquisição de medicamentos para que não hajam famílias no Bombarral que têm que escolher entre ir ao supermercado ou à farmácia.

Estamos a falar muito concretamente de que tipo de parcerias? Essas parcerias serão feitas entre a autarquia e a segurança social, farmácias, industria farmacêutica?

Eu não gostaria de me adiantar já em termos específicos, porque ainda não temos esses protocolos celebrados mas posso dizer-lhe que estas parcerias advêm da Associação Dignitude cujo Programa Abem é uma rede solidária de medicamentos e que envolve municípios, a Cáritas e logicamente que envolve também a indústria farmacêutica. As farmácias irão ser todas convidadas a participar neste programa. Tanto quanto eu sei, o convite foi formalizado a todos os municípios do país e se não foi aproveitado até agora no Bombarral, quero que o seja no meu mandato.

E quais são os requisitos que as famílias devem ter para poderem beneficiar deste programa?

Cada membro do agregado não pode ter um valor superior a 50% do IAS (Indexante dos Apoios Sociais).

Relativamente às medidas anunciadas para a redução do IMI, já sabe se a autarquia tem uma estrutura financeira que o permita?

A redução do IMI é uma intenção que temos e que vamos ainda verificar tudo no que aos orçamentos diz respeito. Por isso, não colocamos esta medida com meta concretizável para os primeiros 100 dias. Não sabemos ainda, se temos condições para implementar esta medida este ano. Mas é uma medida que queremos implementar neste mandato.

Falou também de roteiros turísticos e gastronómicos...

Sim, e essa medida vai de certa forma entroncar na alavancagem que pretendemos para o comércio tradicional. Esses roteiros permitirão atrair pessoas e as pessoas que dinamizarão a economia.

Esses roteiros estão pensados de forma a estabelecer parcerias com os concelhos vizinhos? Estou a lembrar-me que o Bombarral está situado entre as praias e o campo. O Montejunto no Cadaval, as praias na Lourinhã, os monumentos em Óbidos...

Não apenas pensamos como desejamos essas parcerias. Nós queremos é dar resposta num curto espaço de tempo como eu me comprometi a fazer.

Ainda no campo dos projetos que beneficiam o turismo, em que pé está o do Parque Temático? É sua intenção relançá-lo?

Eu gostaria primeiro de perceber o que é foi feito nos últimos 8 anos a propósito desse projeto. Tudo o que sei é que não há projeto. Tive acesso apenas, tanto neste assunto, quanto noutros, a pastas vazias. Nem sequer posso dizer que há um projeto esquecido na gaveta, simplesmente não há projeto. E posso mostrar-lhe. Tudo o que tenho ali é uma série de pastas completamente vazias.

Mas há outros projetos já iniciados e que contribuirão também para esse relançamento do turismo e o apoio ao comércio tradicional. O Mercado Municipal, por exemplo.

Esse é outro, Não sabemos onde está. Se existe, onde está? Como já lhe disse, e mostro-lhe, as pastas estão aqui. Como pode ver estão descriminadas com os vários projetos nas lombadas mas estão vazias...

O que é que aconteceu para estas pastas estarem vazias?

Não fazemos ideia. Só o anterior executivo poderá responder a essa pergunta.

E o novo Hospital do Oeste? O Sr. Presidente anunciou que pretende trazer o Hospital para o Bombarral, no entanto tem noção de que o município das Caldas da Rainha não abrirá mão dele...

A questão do hospital é muito complexa e já vem de trás. É preciso ter noção de que “guerrinhas” inviabilizarão completamente este projeto. É a questão é: O Oeste tem cerca de 300 mil habitantes e tirando um ou outro concelho nos limites norte e sul, em que o sul já vai muitas vezes para o hospital de Loures e o norte para o de Leiria, tudo o resto precisa de um hospital que seja central. E neste pressuposto, basta olhar para a geografia do Oeste para facilmente se perceber que é no Bombarral que está a melhor localização. Não o digo para estar a puxar a brasa à minha sardinha. Digo-o porque é uma realidade: O Bombarral está equidistante de Torres Vedras, de Caldas da Rainha, de Peniche, da Lourinhã, Cadaval e Óbidos são já aqui ao lado...o Bombarral está perfeitamente no centro da região. 


Também é uma promessa sua pressionar o governo central para que a linha do Oeste seja revitalizada...

Relativamente a essa questão posso dizer-lhe que os municípios estão unidos. Não há rivalidades entres os municípios que beneficiam da Linha do Oeste. Apesar disso, os autarcas mudam mas o problema não se resolve. Há agora um projeto para alguma revitalização mas não é um projeto extensível a toda a linha. E nessa matéria gostaríamos de ver a linha modernizada de uma forma consistente e que servisse os interesses do Oeste por inteiro tanto para viajarmos como para os vagões de carga. Não podemos continuar a permitir que uma linha que já existe desde o século XIX esteja praticamente abandonada com supressões de composições sistemáticas. Contamos obviamente com a OESTECIM, mas quero manter uma estreita relação com o governo central de forma a que o Bombarral esteja na linha da frente para essa discussão. Não me vou furtar a esforços para chegar à fala com as instâncias que têm competência nesta matéria.


Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Eduardo carvalho

Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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