“A Grande Ressaca”

“Gosto desta vida de andar na estrada porque acredito que a minha missão na vida é fazer «rir o público»”


Estas palavras são do ator Carlos Cunha que, fala sobre a comédia que anda em digressão, ‘Grande Ressaca’, e que passou pelo Bombarral, no passado dia 3 de março, no palco do Teatro Eduardo Brazão.

Logo no início da entrevista, o ator que toda a gente reconhece de algumas produções para televisão, incluindo “Os Malucos do Riso”, diz que representa desde que se conhece e sobre o panorama teatral português lamenta as dificuldades que “já são crónicas".
Falta de apoios, pouca valorização da cultura e sobretudo do teatro”. Carlos Cunha diz ainda que tem pena que “os tempos não estejam de feição para os atores e atrizes com vários anos de experiência. As televisões, os produtores de telenovelas, e mesmo os produtores de cinema preferem as carinhas larocas que vão aparecendo e não estão muito preocupados se representam bem ou mal. Mas o seu nome é sobejamente conhecido entre os portugueses. Todos se recordam de si em programas de televisão, “Os Malucos do Riso” foi um dos mais recentes mas há outros que todos nos recordamos de o ver contracenar com a Marina Mota... Precisamente por causa de alguns programas que fiz, fiquei de certa maneira rotulado como um dos atores que não foi formatado para encaixar noutras produções que fujam à comédia. É uma pena, mas é assim que as coisas são. Os rótulos quando colam, não descolam.

Mas não sente orgulho de ter feito esses trabalhos?

Tenho. Muito. Orgulho-me de todos os trabalhos que fiz porque acima de tudo tenho a consciência de os ter feito bem e isso é o que mais me importa.

E sobre esta peça “A Grande Ressaca”, há alguma mensagem em particular para o público?

Há sobretudo a vontade de proporcionar às pessoas, algum tempo de descontração, de abstração dos seus problemas. Nesta peça eu acordo com uma grande ressaca que depois se percebe que não é aquela ressaca de quem bebe uns copos a mais. Acordo sem me lembrar de nada e percebo que passei a noite com a mulher do meu melhor amigo, mas se calhar não, mato um gajo, mas se calhar não, oferecem-me uma prostituta como presente de aniversário, mas se calhar não.

Quer dizer que até ao final da peça o público é levado a um estado de permanente confusão sobre o que de facto está a acontecer?

Sim. É precisamente essa a ideia. A peça confunde e diverte ao mesmo tempo. Acho que são dois ingredientes que fazem com que valha a pena vir ver.

Curiosamente, temos neste elenco a Erika Mota que é sua filha, fruto do seu casamento com outra atriz de quem o público gosta particularmente, a Marina Mota. É fácil trabalhar com a sua filha?

Só é mais difícil porque este vínculo parental que nós temos faz com que um fique sempre mais nervoso quando o outro está com os nervos, ou quando o outro se esquece de alguma
parte do texto. No resto é divertidíssimo porque acima de tudo somos bons amigos e bons colegas. Aliás, sermos bons amigos é fundamental entre todos. Passamos quase 24, sobre 24 horas juntos, alguns até dorme juntos (risos), e portanto como costumo dizer sempre, valorizo muito mais um ator que consegue ser um bom amigo, do que outro que é apenas um excelente ator. Se conseguir conciliar as duas coisas, bom, nesse caso é ótimo!


Sinopse:
"A Grande Ressaca” é uma comédia teatral protagonizada por Carlos Cunha, no papel de Alberto, um empresário de mariscos congelados que há dez anos perdeu a sua mulher para Ramiro, um empresário com a mania que vende mariscos vivos (e vende mesmo). Alberto vive angustiado com esta perda e nunca deixou de acreditar que a sua mulher vai voltar para casa. Na noite em que Alberto faz sessenta anos, ele e o seu amigo e empregado Jaime abusam da bebida, o que dá origem a uma grande ressaca no dia seguinte, ressaca essa com uma particularidade: Alberto não se lembra de nada do que fez na noite passada.
Todavia, Jaime lembra-se e vamos descobrindo ao longo da peça que a noite foi tudo menos uma noite normal, e que, inclusivamente, Alberto matou Ramiro e o corpo está lá em casa.
Dá-se então início, num ritmo frenético e com muitas personagens à mistura, ao contra-relógio que Alberto terá de fazer para se livrar do corpo do amante da mulher (e de uma acompanhante que o chantageia), que agora quer regressar a casa. E no meio de muito humor e situações altamente inusitadas, também se tocam temas fortes, como o amor, a solidão, os afetos e a idade."

Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste

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