O Reflexo no Espelho (Parte I)
Magreza é beleza e gordura não é formosura?
Não é que o verão esteja propriamente aí à porta, mas todos os anos, o mês de março que nos traz um vislumbre de primavera, leva mulheres e homens a correr aos ginásios, nutricionistas, e claro, à troca do guarda-roupa.
Neste mundo tão concentrado na imagem e no que com ela podemos passar aos outros, nem sempre é fácil aceitar que as mulheres têm celulite e que os homens não são um monte de músculos. Os nossos corpos não são instrumentos de trabalho milionários aos quais podemos dedicar o dia inteiro a fim de os moldar.
Se por um lado todos nós, mulheres e homens, sofremos pressão mediática para corresponder a um ideal físico que muda ao longo dos tempos, por outro lado, somos constantemente bombardeados com a pressão da indústria alimentar para incluir de tudo, sejam refrigerantes ou bolachas, na nossa alimentação.
E quão fácil é perdermo-nos no labirinto dialético das calorias, do light, do sem açúcar, do vegetariano ou do biológico, que nos levam a tomar uma opção supostamente mais saudável do que outras. Afinal, vemos constantemente bem torneados os corpos de jovens, desportistas, modelos ou estrelas do cinema e da televisão. Essas são as figuras que encontramos nas capas das revistas a promover com os seus corpos esculturais e sorrisos branqueados as marcas de comida rápida e de alimentos processados que nos dizem poder incluir na nossa dieta ao mesmo tempo que apelam ao consumo de produtos de beleza e tratamentos de estética. Assim é difícil não acreditar que hambúrgueres, pizzas e gelados, nos conduzam ao corpo que somos programados a desejar mas que nunca vamos ter, porque afinal, nós somos as mulheres e homens reais e não um subproduto da indústria da estética.
E quando é preciso comprar roupa? Há muitas formas de nos sentirmos bem com o nosso reflexo no espelho. A pensar nisso, há quem crie negócios, também no ramo do pronto-a-vestir, com um conceito diferente daquele a que estamos habituados. Um conceito que privilegia sobretudo as mulheres com peso a mais, porque como nos diz Sandra Martins, “são elas que mais sofrem com a ditadura dos corpos perfeitos.” A pensar nesta necessidade elementar de aumentar o poder de escolha das “gordinhas”, a empresária, que também sofre na pele o efeito das medidas generosas, abriu uma loja, praticamente única a sul da Região Oeste. Neste espaço, compram-se peças a preços razoáveis, a partir do número 44. Todavia, a “Atractiva Moda XL” foi criada também com a missão de abalar as consciências e tem uma vertente filantrópica que muito a distingue do habitual negócio da venda de vestuário e acessórios de moda. Sandra Martins, dinamiza a sua loja no n.º 48 da Rua Dr. Leonel Sotto Mayor, nas Caldas da Rainha, com tardes temáticas que abarcam todo o universo feminino. Desde a maquilhagem à nutrição, da psicologia ao crochet. “O importante é dar às mulheres o estímulo de que elas precisam para gostarem cada vez mais de si próprias”, diz-nos a responsável.
Todavia, quer gostemos muito ou pouco de nós, também sabemos que o excesso de peso pode converter-se num sério problema de saúde e quanto a problemas de saúde, estamos todos de acordo: É preciso combatê-los. Será que então, enquanto habitamos a mediática ditadura encapotada e brilhante que nos leva a acreditar que deveríamos ser todos Sara Sampaio e Cristiano Ronaldo,-porque é isso que vemos em todas as revistas, anúncios, filmes e cartazes-, vivemos paralelamente a realidade de que o corpo normal é o nosso, porque pertence a uma vida normal que também é a nossa e que se há algum problema com ele, deve-se não só a um ideal desajustado como também a desinformação e políticas alimentares erradas?
Alexandra Gomes, nutricionista na cidade termal, parece ter a resposta. Ela diz-nos que “nisto, como em tudo, há sempre o reverso da medalha, e que há também uma tendência inversa à do culto do corpo perfeito – a de aceitar os excessos do estilo de vida como naturais. Isso conduz-nos a um tipo de problema diferente, pois não só mascara habitualmente questões de saúde mais profundas, mas é também uma forma de tomar frequentemente caminhos alimentares constantemente errados, sob a capa da revolta. É a atitude de quem se destrói no sentido inverso numa atitude da aceitação exacerbada, criando antes mais problemas ao invés de os resolver.”
As pessoas não são todas iguais e os corpos também não, mas não é difícil perceber qual é o caminho certo. É pois o do meio, e dizê-lo é fazer justiça àquela velha máxima de que “é no meio que está a virtude”.
Haja portanto, equilíbrio. E é precisamente nesse sentido que Alexandra Gomes enfatiza: “que se criem os mais variados mecanismos para levantar a auto-estima das pessoas, todos são válidos, se-jam eles as lojas de roupa direcionadas para um público mais gordinho ou as clínicas de estética. Mas o que não podemos fazer é utilizar essas ferramentas como justificação para o facto de que nos estamos a tornar uma espécie cada vez mais obesa e deformada, não apenas pelo que comemos e deixamos de comer mas também pelo estilo de vida cada vez mais sedentário que adotámos”.
O espelho, esse instrumento que tanto mexe com o nosso bem-estar psicológico, não reflete apenas o que mostramos ao mundo. Existe também um “Eu” mais íntimo que se retrata, e que é a forma como olhamos para nós, e de que forma acreditamos que o mundo nos olha. E Alexandra Gomes alerta: “Há que aceitar, para nosso bem, que nem sempre o que espelhamos é a melhor versão de nós mesmos.”
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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