Montejunto- A riqueza subterrânea e os segredos da Serra



Diogo de Abreu tem 70 anos, nasceu no Cadaval, é um geógrafo e Professor Catedrático de geografia, agora aposentado, bem conhecido pela sua ligação à Federação Portuguesa de Espeleologia da qual chegou a ser Presidente da Direção. Diz que se apaixonou cedo pelo mundo subterrâneo. Começou a fazer espeleologia sozinho, quando ainda muito jovem, ia de bicicleta para o Montejunto. Sente fascínio pelo desconhecido e pelo perigo. Leu “Dez Anos Debaixo da Terra”, de Norbert Casteret e todos os outros que se lhe seguiram e entusiasmou-se com a aventura e a descoberta, sobretudo, com a possibilidade de descobrir coisas novas muito perto de casa. Diz que ainda se lembra da primeira vez que entrou numa gruta e do que sentiu. “Eu estava com o meu pai quando ele foi convidado para ir com um grupo de técnicos ver uma gruta que tinham acabado de descobrir no Montejunto. Fui com eles e a partir daí, o entusiasmo levou-me a nunca mais deixar esta atividade”
O medo inicial deu lugar à experiência e aumento do fascínio. “sabendo para onde vamos e tendo o conhecimento e a técnica, sentimo-nos muito mais à vontade para explorar”
Mas o que é que levou Diogo Abreu a sentir tanto deslumbramento pelo mundo subterrâneo? “Quando eu nasci aqui no Cadaval, nos anos 40, grande parte do mundo já era conhecido, e para ir a sítios que não se conheciam era preciso gastar muito dinheiro. A espeleologia, na altura, permitia-me ir a sítios onde o homem nunca tinha posto o pé, andando oito ou nove quilómetros de bicicleta”
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Diogo Abreu garante que já entrou em boa parte das grutas existentes no país e conhece as que existem na Serra de Montejunto como as palmas das suas mãos. Grutas e algares que constituem uma importante parcela do vasto e rico património natural do Montejunto, onde se conservam registos da evolução geológica e biológica da Terra e da nossa passagem por ela. “Existem dezenas de grutas e algares distribuídas por toda a Serra, sendo a maior parte delas de pequenas dimensões ou de desenvolvimento vertical”, diz-nos o geógrafo que garante que a exploração e o estudo das mesmas está reservada a especialistas, dadas as dificuldades e perigos que apresentam. E acrescenta: “visitas por parte de pessoas que não dominam as técnicas básicas de exploração subterrânea, só deve ser efetuada na companhia de espeleólogos devidamente credenciados”. É aqui que entra o Espéleo clube de Torres Vedras, ao qual Diogo Abreu está ligado. Este organismo que existe há mais de 25 anos dedica-se a explorar as grutas e algares do Montejunto, mas também a promover a sua preservação. “Devemos olhar para as grutas com os mesmos olhos com que olhamos para os rios, as florestas, os animais ou oceanos”

Diogo Abreu explica-nos que a formação do Montejunto tem origem na ação química e mecânica das águas da chuva, que caindo sobre os maciços calcários provocam a erosão da rocha e o alargamento das pequenas fissuras. Não há, possivelmente, nenhuma nascente no Montejunto. A água que sai do Montejunto é proveniente das águas da chuva que se vão infiltrando. O reservatório que existe, acaba por sair em grande parte nos Olhos d’Água de Ota e em Alenquer. “De resto, recordo que a antiga água que era consumida no Cadaval, era proveniente do Montejunto. Era uma água que tinha muito calcário”

As grutas, que foram, ao longo de toda a pré-história, locais de abrigo, habitação, culto e necrópole, guardam ainda as marcas dos primeiros seres humanos que calcorrearam toda a área da Serra há muitos milhares de anos atrás. Esses registos podem ainda encontrar-se em muitas grutas do Montejunto. Salvé Rainha, a primeira que Diogo Abreu descobriu, a gruta das Fontaínhas, Furadouro, Bom Santo, Buracos Mineiros, Covão das Pias, Casa da Moura, S. Salvador, Charco e Pragança, são algumas das cavidades onde foram já recolhidos vários testemunhos da ocupação humana nesta região. 
Grande parte destas grutas e algares assumem hoje uma importância vital para o estudo do nosso passado. Algumas, como o Algar do Bom Pastor, encontram-se seladas para preservar aquilo que apenas os especialistas da arqueologia podem recolher e estudar. Todavia, não foi só o homem pré-histórico que se serviu das cavernas de Montejunto para se abrigar e proteger. Muitos animais competiram com o homem na ocupação desse espaço privilegiado, que os defendia do frio ou dos predadores, “é frequente encontrar nas camadas de terra, existentes nas grutas, inúmeros vestígios de outros animais, alguns dos quais muito anteriores ao homem”. 

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Na gruta das Fontaínhas, por exemplo, foram recolhidas falanges de cavalos e diversos ossos de lince, cabra, urso das cavernas e cervídeos, com mais de dois milhões de anos. Também é nesta gruta que se encontra uma das mais importantes colónias de morcegos da região oeste, sendo por isso de evitar as visitas a esta cavidade, dado que afetam e colocam em perigo esta espécie de fundamental importância no equilíbrio do ecossistema de Montejunto.



Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto/Internet
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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