Foto de Perfil: Paula Fialho- A voz da M80

"Falo com tudo o que mexe e falo muito sozinha"



É uma menina da rádio, dá a voz na M80, tem 48 anos e uma alegria contagiante. Nasceu na Guiné Bissau mas tem raízes no Cadaval, a terra dos avós que tinham um grande amor pela terra. 

Paula Fialho confessa-nos que voltar ao Cadaval é para ela sempre rejuvenescedor, porque todos os lugares da vila e do concelho a remetem para a sua infância e adolescência. Para as festas das quais sempre gostou muito. “Sempre gostei de dançar e não perdia as festas populares ao fim de semana.” Diz-nos. 

Passou no Cadaval muitas das suas férias. Podia fazer coisas aqui que não fazia em Lisboa. Andar de bicicleta, por exemplo. Sempre que vem sente-se em casa e sempre muito bem recebida. Gosta de vir ao Cadaval sobretudo para estar perto das pessoas que mais ama, o irmão e a sobrinha mas também para estar perto de pessoas como ela. Pessoas ligadas à terra e à natureza.



E como é que descobriste que tinhas jeito para fazer rádio?

Eu gostava muito de ouvir rádio e então já tinha aquela “pancada” para ler rótulos em voz alta. E eu pensava: “ ai, que bem que soa...Lux o sabonete que faz bem à sua pele...” (risos) e fazia várias versões da mesma coisa. Ia para a casa de banho, agarrava nas embalagens dos champôs e sabonetes começava a ler. Já tinha essa vontade. Depois costumava ouvir os Parodiantes de Lisboa e achava o máximo! Eu pensava. “ como é que eles nunca se enganam?” Até que um dia (tinha eu uns 16 anos), o meu tio chega a casa e me diz que um colega dele trabalha numa rádio local em Vila Franca ao que eu respondi: “então tens que dizer ao João que me apresente lá aos diretores da rádio porque eu também quero ser radialista. E assim foi, eu apareci e nesse dia em que falei pela primeira vez com o diretor da rádio fui logo para o ar.
A jornalista que lá estava recortou uma noticia do jornal e mandou-me lê-la em estúdio. Eu não sei o que se passou naquele momento. Só sei que as letras fugiram-me. Li tudo mal. O diretor na altura chamou-me e disse-me: “Olha, tu tens uma voz bonita. Mas o português... tens que melhorar isso!”
Desde aí que iniciei o meu caminho na rádio. Tem sido um grande caminho a fazer. Um caminho longo, às vezes duro. Mas é a minha vida. Amo-a, assim como é.


Ou seja, começaste pela informação mas acabaste na animação...

O meu objetivo quando fui para a rádio era passar músicas. Queria ser DJ de estúdio. Só que quando eu cheguei esses lugares já estavam todos preenchidos e eu também não revelava muito jeito. Não porque não o tivesse, mas porque era traída pelo meu sistema nervoso e pela minha timidez. Fui fazendo informação até ao dia quem me espalhei ao comprido. Um dia a dizer Gorbachev disse Gorbachav, Gorbachiv...(risos) após um mês de castigo lá disseram “ pronto...ela é um bocadinho palhacinha, mais vale deixá-la fazer aquilo que gosta. E passei então para animação. Através de um longo caminho de tentativa e erro fui aprendendo a fazer a bem o que faço hoje. 

E não te parece mais difícil fazer animação do que informação? Na animação não tens sempre rede. Tens que improvisar...

Ah... não isso hoje em dia não se passa seguramente assim, sendo que eu sou a locutora mais espontânea da M80. Eu não consigo trabalhar bem com scripts ou guiões. Faço sempre a leitura das coisas muito por alto e depois falo sobre o que tenho que falar. Por exemplo, vou ler a historia de uma música, mas não conto a história como lá está. Não escrevo. Memorizo. E quando estou no ar, estou perfeitamente à vontade. 

Trabalhas bem sobre pressão?

Sim. Eu sempre fui muito espontânea, sempre fui muito criativa. Desde pequena que falo com as flores, com as árvores, com as pedras da calçada. Falo com tudo o que mexe...e falo muito sozinha...(risos)

Para falares com pessoas inteligentes, de vez em quando? 

Exatamente! Comigo mesma! (risos)


Então e diz-me como é que te safas com as “brancas”? Acontece-te um lapso de memória. Como é que fazes?

Na verdade não faço muitas. Mas curiosamente sonho muito que estou a fazer brancas, É um sonho recorrente que eu tenho. De qualquer maneira, quando acontece temos que lidar com elas com toda a normalidade. Até porque também não é uma falha assim tão grave e o ouvinte comum não castiga muito isso. É pior quando isso acontece e nós ficamos ali a arrastar o “ah.....” é uma bengala terrível e mesmo que dure só 15 segundos parece uma eternidade. Isso é que é chato na vida de radialista porque depois ficamos a amargurar aquilo. Podemos ter, sei lá, 5 horas de emissão fantástica e por causa de um momento desses em que descarrilamos ficamos com a sensação que todo o trabalho foi uma porcaria.

E o que é que é mais difícil para ti em rádio? Teres que fazer, por exemplo, horários madrugadores, custa-te? Arrancas logo no teu dia com boa disposição?

Eu sou uma mulher bem disposta. Acordar cedo e começar a fazer programas não me custa nada. Pelo contrário. Gosto. Se acordo às 7 da manhã mas faço-o por outra razão qualquer que não seja para ir fazer rádio, sou capaz de andar ali um bocado de manha, que não falem comigo, mas passado meia hora vou tomar o meu banhinho e fico logo bem disposta. Eu acho que sou uma mulher bem disposta. Não consigo estar de mal com avida. Não consigo deixar de apreciar este sol de outono, até encontro magia nos dias cinzentos...

Dás importância aos pormenores? Àquelas coisas que normalmente nos passam despercebidas?

Eu dou importância aos pormenores e sobretudo à essências das coisas e das pessoas. Sempre fui assim. Não o digo porque é bonito dizê-lo. Sou mesmo assim. O amor que eu dou à radio é o mesmo amor que eu recebo da rádio. Sou uma mulher muito apaixonada e tenho vários amores na minha vida.


Então e a voz? A magia da rádio permite alguns equívocos. Às vezes as pessoas constroem imagens erradas dos locutores em função das vozes que ouvem. E muitas vezes apaixonam-se! Já despertaste paixões por causa da tua voz? 

Ah... tenho cenas muito engraçadas! (risos) Há um senhor que todos os dias liga para a M80, a telefonista está sempre a dizer-me: “olhe ligou o seu ouvinte maluquinho!” Eu já nem pergunto porque ela acha que ele é maluquinho! Ele está sempre a deixar convites para sair, para jantar, para lanchar...(risos)... Enfim, é frequente chegarem estas propostas mediante a ideia que têm de nós. Claro que são na sua maiorias ideias erraras, porque nós somos mulheres normais . Com vida. Eu por exemplo até tenho uma relação com uma pessoa. Não a assumo nas redes sociais porque sei que haveria ali uma parte da minha popularidade que cairia logo....

Então, fazes como o Marco Paulo? Também não te casas só para manteres os fãs? (risos)

Não, não! Eu não me caso porque nunca fez parte dos meu planos casar. Se calhar agora já penso uma bocadinho mais nisso, porque já vivi o suficiente para achar que algum dia tenho que acalmar. Não posso ficar solteira para sempre! (risos) Vá poder posso, mas a pessoa que eu tenho na minha vida justifica plenamente que pense em tornar esta relação mais definitiva. Mas eu sei que não é fácil para ele conviver com alguns comentários. E nós não somos amigos no facebook. Preferimos não ser. Mas faço sempre questão de esclarecer os meus ouvintes de que sou uma pessoa normal mesmo que a voz pareça de uma pessoa que está sempre no seu auge! Eu nem sempre estou. Agora, o que é que torna as pessoas bonitas? Não é o sorriso? Uma voz que tem sorriso é sempre outra coisa. E a minha voz tem sorriso. Especialmente no trabalho. E há outra coisa que é a teoria do peso das palavras. A capacidade que o animador tem de namorar ao microfone. Eu quase namoro ao microfone. A voz vem-me de dentro. Tive um ouvinte que me dizia: “ A Paula fala sempre como se estivesse apaixonada!” e eu de facto não sei ser uma pessoa desapaixonada. Eu tenho que falar apaixonada. Assim que o meu show começa...ahhhhh...Sou eu!



Melhor Qualidade- Sinceridade
Pior Defeito- Ciúme
Comida favorita- Legumes à brás
Local favorito- Este parque aqui no Cadaval é um deles
Música favorita- Here I Go Again- Whitesnake
Local de Férias- Guiné Bissau
Melhor Momento-Quando o Miguel Cruz, após o meu estágio me chamou para fazer um contrato de trabalho
Pior momento- Algumas humilhações que vivi numa rádio local














Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Margarida Silva
Foto de Perfil é uma rubrica do Jornal Região Oeste
Artigo publicado no Jornal Região Oeste

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