Foto de Perfil- Eugénia Correia

“Em Figueiros somos todos família. Uma família muito grande. E apesar de eu, atualmente, passar muito tempo em Lisboa, sinto-me parte integrante desta família que se apoia e interajuda.




É ainda para muitos a menina, a “Geninha” que todos conhecem no concelho do Cadaval, mas, sobretudo, na aldeia onde nasceu e fez a instrução primária, Figueiros. Hoje, vários anos volvidos desde a infância, e um percurso notável no ensino e na política local, sente-se pertença da terra, do concelho e das gentes que o compõem. Foi vereadora, três mandatos no executivo de Aristides Sécio, e um mandato na oposição. Trabalha atualmente na Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares e é deputada intermunicipal na OesteCIM. Mas é a Figueiros, a terra que a viu nascer, que regressa, no final de cada dia. 

Como é que foi o seu percurso? Iniciou-se aqui, na escola primária? 

Sim. A escola do primeiro ciclo foi feita aqui. O segundo, já foi feito nas Caldas da Rainha, onde tirei o magistério. Fui para Lisboa quando comecei a dar aulas, o que fiz durante um ano. Quando voltei, fui coordenadora da educação de adultos no ensino recorrente, área em que trabalhei no Cadaval durante dez anos e depois disto apareceu então a política. 

E agora, como é que está a decorrer a experiência na Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares? 

Está a ser muito enriquecedor. Eu já conhecia muito sobre a área da educação, mas precisava de conhecer este lado, para sentir o trabalho no terreno. Neste momento, estou a conhecer grande parte da zona de Lisboa e Vale do Tejo, no que ao ensino diz respeito. Gosto muito de trabalhar com proximidade às pessoas. Desengane-se quem pensa que a nível central não há proximidade às pessoas. Há sim! Muita! 


Voltemos um bocadinho atrás. A meio da sua carreira no ensino dá um salto para a política. Como é que isso aconteceu? 

Foi precisamente através da educação. Quando passei para a coordenação da educação de adultos passei a conhecer as forças vivas do concelho. Foi esta ligação aos vários organismos e entidades que me permitiu, desde logo, começar a ter uma atitude mais politizada. Todo o trabalho que era preciso desenvolver exigia uma atitude política. Tirei um curso de administração e gestão escolar e como gostava tanto destas questões do património, tirei também uma pós-graduação em património cultural e imaterial (isto quando eu já estava na Câmara Municipal). Através do património, tendo em conta a sua preservação e desenvolvimento, conseguimos também desenvolver os territórios e a política está muito ligada a tudo isto. 

Ser vereadora, foi uma experiência gratificante?

 Sim, gostei muito. Fui também vereadora da oposição durante quatro anos e foi igualmente enriquecedor. Aprendi muito. Aprendi a ver as coisas de uma outra forma. Trabalhei sempre com uma grande paixão em todos os projetos que desenvolvi. Gostei muito de trabalhar na educação de adultos, mas adorei trabalhar na vereação. Quando estava a trabalhar na educação de adultos, estava mais dependente das parcerias para poder desenvolver projetos. Na vereação temos muito mais facilidade em fazer coisas, o trabalho faz-se de uma forma muito mais ágil. Tive sempre uma ótima equipa a trabalhar comigo. É preciso dizê-lo. Numa Câmara Municipal nunca é o vereador sozinho. Há obviamente um Presidente, mas há também uma equipa. Claro que tivemos muitas limitações, como ainda hoje existem. Como sabemos, o concelho do Cadaval é um concelho pobre, e isso limitou bastante aquilo que fizemos. Na verdade, sinto que ficaram algumas coisas por fazer. 

Quais foram os projetos que hoje tem pena de não ter desenvolvido? 

Gostaria de ter podido desenvolver o tecido empresarial do concelho, por exemplo. Tínhamos um projeto, um plano estratégico. Estudámos em conjunto e já tínhamos definido quais eram as áreas que iriamos apoiar. A ideia passava por construir um centro de apoio aos empresários, sobretudo aos jovens que têm mais dificuldade em aceder a uma rampa de lançamento. Tínhamos já uma rede de contactos com a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), e tínhamos já definidos os produtos que iriamos apoiar. Obviamente, que os produtos que no nosso concelho podem fazer a diferença são a pera rocha, o vinho e também a agropecuária e avícola. Daríamos primazia à inovação e já tínhamos estipulado que quem ficaria naquelas incubadoras de empresas seriam os jovens empreendedores e inovadores que mostrassem produtos diferentes, ou melhor, que mostrassem conceitos diferentes para a apresentação e comercialização de produtos já existentes. Esse foi o caminho que eu e a minha equipa deixámos por fazer. 

O que é que falhou para que esse projeto não tivesse avançado? Falta de verbas? 

Claro que a falta de verbas condicionou tudo. Tínhamos a ideia de construir um local/ pavilhão onde pudéssemos fazer, por exemplo, as adiafas e outras atividades com o tecido empresarial do concelho e do exterior, a ideia passava muito por abrir o espaço ao exterior também. Teríamos a funcionar lá as incubadoras e o espaço acabaria por ser um catalisador de vários projetos. Com o devido dinamismo, acredito que este projeto teria sido muito positivo para o desenvolvimento económico do concelho. Tudo isto dependia de fundos comunitários que nunca abriram durante todo o tempo que estive na vereação. De qualquer modo, se nós tivéssemos tido mais tempo acabaríamos por levar o projeto adiante mesmo sem os fundos comunitários. A Câmara Municipal permitiu-me concretizar muitos projetos e realizar muito sonhos, sempre com o objetivo de desenvolver o concelho.

De que é que sente mais orgulho de ter feito? 

Há muitas coisas de que me orgulho, é um facto. Das exposições que fizemos, por exemplo. Nunca o Cadaval tinha tido tanto dinamismo no campo das artes. Chegámos a trazer ao Cadaval vários artistas de âmbito nacional. Pessoas de muito valor, ligadas à fotografia, artes plásticas em geral, pintores, escultores e outros. Havia uma troca de experiências muito interessante.

 E na área da educação, qual foi o projeto que mais a marcou? 

Foi a construção do Centro Escolar do Cadaval. Uma das coisas que me fazia impressão era os alunos não terem um sítio para conviverem e almoçarem. Tinham de ir à outra escola, o que era complicado porque não havia meios humanos. Além disso, o local era perigoso. Havia sempre uma bola que saltava e ia parar à rotunda, por exemplo, ou ao outro lado da estrada. Era também preciso dar uma escola a tempo inteiro àquelas crianças, com as devidas condições. Isso foi uma prioridade para nós. 

Que deu luta? 

Não, ali não. Mas tive escolas que deram. A minha maior luta na educação foi quando foi preciso encerrar escolas. Eu lembro-me de haver uma escola em Lamas que tinha apenas um aluno. Um aluno e uma professora. O trabalho mais penoso nestes casos foi envolver os pais. E não apenas os pais, mas as forças vivas de cada localidade. Tínhamos de explicar porque é que era mau para as crianças estarem ali. Essa foi a primeira luta, mas seguiram-se muitas outras. Encerrámos várias escolas que tinham três, quatro ou cinco alunos. Nem sempre foi fácil explicar às pessoas que isto não era bom, nem para as crianças, nem para os professores. A última luta que tive e que tenho pena de não termos ganho naquela altura, foi quando fizemos a restruturação da escola de Chão do Sapo. Nessa altura, tínhamos a ideia de fazer outro centro escolar e informámos a população. Mas aí entraram questões políticas e a nova escola não foi aceite. Neste momento, está a acontecer aquilo que prevíamos: Temos a escola da Murteira e a escola de Chão do Sapo, a da Murteira é uma escola maior que tem uma oferta completamente diferente, e a escola de Chão do Sapo está a perder alunos. Portanto, estávamos certos quando defendíamos que devia haver apenas uma escola para aquela freguesia. 

E a nível do turismo? Como é que olhou para a Serra do Montejunto, que é afinal o ex-libris do concelho? 

Eu e a minha equipa, conseguimos captar a atenção para a Serra do Montejunto, o que não foi fácil e não é fácil. Temos um forte concorrente nos concelhos vizinhos, que é o mar. Mas há cada vez mais pessoas a visitar a Serra. E também há que ter cuidado com esta questão porque não podemos querer um turismo massificado. Pensámos construir um parque temático ligado à natureza, era um projeto interessante, mas existiram constrangimentos. Por exemplo, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) não nos deixa construir, porque o Montejunto é um território nacional de paisagem protegida, começa logo por aí. Embora nós tivéssemos pensado em construir infraestruturas de acordo com o meio, portanto nada de betão. Mas, mais uma vez a falta de verbas condicionou o projeto. Agora, acredito que há coisas que se podem fazer, como ligar as tradições serranas ao Montejunto, o Cantar dos Reis, por exemplo. Sei que o atual executivo vai fazer um trabalho muito importante à volta da Real Fábrica do Gelo, e creio que as duas Câmaras, Cadaval e Alenquer, terão uma força maior para desenvolver projetos que dinamizem a Serra. Chegámos a pensar em obter a concessão do quartel, por exemplo, inicialmente pensámos na construção de uma pousada, depois entendemos que seria muito útil e positivo criar ali uma escola de formação a nível nacional no âmbito da proteção civil, mas a mudança de chefias no Estado Maior da Força Aérea, inviabilizaram o projeto. 

Gostaria de voltar à vereação para poder agarrar nesses projetos todos que ficaram pendentes? 

Não volto. Nunca se deve dizer nunca, e eu gostei muito das equipas com as quais trabalhei, mas não penso voltar. Estou na Assembleia Intermunicipal e gosto muito do que estou a fazer agora. Uma das batalhas que travamos prende-se com a questão do turismo no Oeste. Discordo completamente desta integração no turismo do centro porque o nosso turismo não tem nada a ver com o que é efetivamente o do centro, e esse é o turismo religioso. É preciso reafirmar o turismo do Oeste. 

E quando havia Região de Turismo do Oeste, sente que a liderança de António Carneiro estava alinhada com os interesses do Cadaval? 

Não estava inteiramente alinhada porque o Dr. António Carneiro deu sempre muito mais importância a outras singularidades da região, como o Golf, por exemplo, ou o Surf que foi uma aposta ganha, e nunca olhou com especial atenção para a Serra do Montejunto. Acho que talvez aí tivesse falhado connosco, não por nos ver como o parente pobre, nada disso, mas porque se focou noutras mais valias da região. Neste momento, acho que a Leader Oeste tem um papel fundamental no desenvolvimento do concelho e a OesteCIM tem desenvolvido um trabalho muito interessante que favorece a região e o Cadaval.



Melhor qualidade- Bondade.
 Pior defeito –Teimosia.
 Um livro inesquecível –   Vates - de Ana Margarida Oliveira.
Local favorito – Perto do mar. 
Prato favorito –Doces, em especial o pastel de nata e adoro queijos
Lema de vida – Ser feliz.  
















Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Margarida Silva
Foto de Perfil é uma rubrica do Jornal Região Oeste
Artigo publicado no Jornal Região Oeste

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