Cadaval Das Mouras Encantadas à Senhora das Neves
Quando percorremos o concelho do Cadaval encontramos pequenas aldeias ladeadas de campos de cultivo. Pomares onde nasce a pera rocha, vinhedos a perder de vista, e o ex-libris daquele que é um dos concelhos mais antigos do país, a Serra do Montejunto. O concelho do Cadaval não é rico em monumentos históricos mas nem por isso deixa de ter origens que ficam perdidas no tempo. Por todo o território concelhio há vestígios da presença humana que remontam à pré-história. E é o Montejunto, que nos dá provas dessa antiguidade. Em Pragança, foram já localizadas grutas que terão servido de habitação durante o período do neolítico. Todavia, a vila de Cadaval propriamente dita, foi habitada por árabes durante a sua permanência na Península Ibérica, na época sob a administração de Alcoentre, e recebeu foral em 1371, concedido pelo rei D. Fernando. Beneficiou ainda da reforma administrativa empreendida por D. Manuel que, em 1513, lhe outorgou novos privilégios. D. João IV, ao consumar a independência de Portugal relativamente à Espanha, fê-la cabeça de ducado, dando assim nascimento a uma das mais sólidas casas nobres do país. Mesmo assim, em 1895, a vila perdeu as prerrogativas de sede do concelho, tendo ficado sob a alçada de Óbidos mas readquiriu o anterior estatuto três anos depois, a 13 de Janeiro, data que por este facto se celebra hoje o Feriado Municipal.
Com uma história tão rica não faltam as lendas e os mitos que foram sendo passados de geração em geração.
Hoje, a tendência natural é para desconfiarmos da veracidade das mesmas, contudo, são de tal forma fantásticas que vale a pena fazer uma breve incursão pelas mais variadas crenças que os mais velhos ainda garantem, estão bem longe do reino da imaginação. Quem, dos que nasceram na década de 70 ou em anos anteriores, já se esqueceu destas histórias que se contavam à lareira? O JRO foi ao encontro do que ainda resta da sabedoria popular dos cadavalenses.
Hoje, a tendência natural é para desconfiarmos da veracidade das mesmas, contudo, são de tal forma fantásticas que vale a pena fazer uma breve incursão pelas mais variadas crenças que os mais velhos ainda garantem, estão bem longe do reino da imaginação. Quem, dos que nasceram na década de 70 ou em anos anteriores, já se esqueceu destas histórias que se contavam à lareira? O JRO foi ao encontro do que ainda resta da sabedoria popular dos cadavalenses.
Uma das crenças mais populares é a que a Serra do Montejunto é oca e que o mar entra por ela dentro.
Esta crença terá dado origem a várias lendas como, por exemplo, aquela em que se conta que o lago nas imediações do quartel não tem fundo e que por isso, jamais seca. Também as mouras encantadas terão habitado a serra nas grutas e algares. Terão sido elas as responsáveis pelo enriquecimento de vários habitantes, já que generosamente, ofereciam ouro em troca de dádivas de leite.
Esta crença terá dado origem a várias lendas como, por exemplo, aquela em que se conta que o lago nas imediações do quartel não tem fundo e que por isso, jamais seca. Também as mouras encantadas terão habitado a serra nas grutas e algares. Terão sido elas as responsáveis pelo enriquecimento de vários habitantes, já que generosamente, ofereciam ouro em troca de dádivas de leite.
Retroceder à infância daqueles que viveram há 40 ou mais anos atrás, é voltar a ouvir os relatos que garantem a existência de lobisomens, mulheres encantadas e bruxas. Estes seres que nos habituámos a encontrar apenas no cinema e na literatura fantástica, percorrem as aldeias durante a noite e alguns, são os guardiões dos tesouros perdidos na serra.
LENDA DO SINO DE OURO – ALGUBER
Segundo a tradição, a Infanta D. Maria, filha do Rei D. João III e esposa de Filipe II de Espanha, I de Portugal, padecia de uma doença e passou pela aldeia de Alguber em busca da cura para o seu mal. Devota à Senhora de Todo o Mundo, invocava-a nas suas preces com a esperança de sarar as suas maleitas. Para mostrar a sua devoção decidiu restaurar a imagem da dita santa, que já se encontrava em mau estado e iniciou uma novena.
O milagre ter-se-á concretizado e a Infanta livre do mal de que padecia agradeceu pelo prodígio pedindo ao seu pai El Rei D. João III que mandasse erguer uma ermida no cume da serra, dedicada a Nossa Senhora de Todo o Mundo e na qual seria colocado um sino de ouro na torre da capela. O rei não só acedeu ao pedido como em 1549 atribuiu a Alguber a autonomia administrativa. A santa deu à Serra de Todo o Mundo, o nome pelo qual a conhecemos hoje. Nos primeiros anos de 1800, aquando das invasões francesas, a capela foi destruída e um grupo de habitantes, receosos de que o sino fosse roubado pelos franceses, terão subido a encosta da serra durante a noite para o esconderem.
Há quem diga que o sino está hoje soterrado pelas ruínas da capela e há quem diga, que junto do sino de ouro existem mais dois sinos, um de prata e outro de peste, razão pelo qual ninguém se atreve a procura-lo, pois o temor de encontrar o sino da peste é maior que ambição de encontrar o sino de ouro.
LENDA NOSSA SENHORA DAS NEVES
A Serra de Montejunto também é conhecida pelos sucessivos e persistentes nevoeiros que despertam fascínio, principalmente no imaginário dos habitantes das povoações vizinhas.
Conta a lenda que uma família constituída por pai, mãe e um filho ainda criança subiram a serra para apanharem lenha para se aquecerem. Passado algum tempo surgiu um intenso nevoeiro e os pais, entretidos na recolha da lenha deixaram de ver o filho.
Apesar das buscas a criança não foi encontrada, até ao dia seguinte, quando o menino terá aparecido pelo seu próprio pé afirmando que durante a noite o tinha protegido uma senhora muito branca que tinha um bebé ao colo e uma maçã nas mãos. A gratidão dos pais do rapaz levou-os a construírem uma pequena ermida onde colocaram uma imagem da Virgem que hoje conhecemos como Capela de Nossa Senhora das Neves.
Na Serra de Montejunto abundam também os relatos das cobras que roubam leite, inclusive de mulheres aleitantes. Durante a noite, entram sorrateiramente nas suas casas chupando o leite destinado às crianças que amamentam.
A Dagorda e a Vermelha partilham a mesma Moura que se diz habitar a mina de uma nascente, a “Fonte da Moura” situada na borda da estrada que liga ambas as povoações e também no Painho existe uma fonte, com o mesmo nome, cuja construção se atribui a uma moura que habitava a povoação. Diz-se que a água que dela brota, quando em tempos grassava uma epidemia no lugarejo, era a única que pela sua pureza podia ser bebida.
Como a Moura Encantada e o Lobisomem, a Bruxa também faz parte desta sabedoria popular. Os mais velhos ainda crêem que nas povoações do Montejunto nasce com essa fatalidade a última de sete filhas consecutivas. A sétima será bruxa ou curandeira, sendo este destino contrariado se receber como madrinha a irmã mais velha e o nome Maria.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA, SOBRENA
Dizem os mais antigos que foi na Sobrena que D. Leonor Teles iniciou a sua famosa relação amorosa com o Conde Andeiro. E terá sido na Capela de Nossa Senhora da Graça mandada construir por D. Fernando I, a seu pedido, que sob a nave central, ao nível do piso térreo, foram sepultados o conde Andeiro, então assassinado por D. João Mestre de Avis, e o Conde de Barcelos, embora já não sejam legíveis as inscrições nas sepulturas, apagadas pela entrada dos fiéis na capela.
Reza ainda a lenda que o nome da aldeia “Sobrena” lhe foi atribuído pela Rainha D. Leonor Teles, casada com o Rei D. Fernando I. Como é sabido, D. Leonor havia sido casada com um fidalgo e embora D. Fernando tenha conseguido a sua anulação por Roma, o seu casamento com D. Leonor não agradou ao povo, suscitando uma onda de revoltas, durante as quais esta repousou, quer no Peral na casa do Conde de Barcelos a quem o seu marido concedera uma doação no ano de 1371, quer na Sobrena, nas Quintas de Santo António e de Vale Vilão.
As gerações passadas deixaram um legado riquíssimo de histórias que quer sejam reais ou não, fazem parte da identidade dos povos. Por mais que sejamos modernos, vanguardistas, tecnológicos, Heródoto, o historiador grego, nunca deixará de ter razão: “ Para entendermos o presente é preciso conhecermos o passado”.
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto/ Internet
Fotografia: Ana Cristina Pinto/ Internet
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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