Tiago e Joana- Os Aventureiros do Oeste

“Arrisquem a concretizar os vossos sonhos” 


Quando pensamos em viajar imaginamos toda uma logística de reserva de viagens e hotel. Antecipadamente procuramos tudo. Primeiro o destino, depois a agência de viagens com a qual, com alguma sorte podemos tratar de tudo. Malas, check- In, o nervosismo dentro de um avião, se é que tal nos assusta, a chegada ao aeroporto, apanhar táxi, falar a língua, ter a sorte de ficar num hotel decente – quando se arrisca o mais económico-, e depois disto, depois do jet lag e energias repostas, sair para a rua de mapa na mão, à procura de pontos turísticos ou menos turísticos mas igualmente interessantes, restaurantes onde se coma decentemente se gastar fortunas. Se o orçamento para viajar não for o mais abonado, tudo conta para chegarmos ao fim das férias verdadeiramente satisfeitos e sem culpas. Este o cenário real em tempo de férias para a maioria, mas também há cada vez mais quem “salte” todos esses passos e vá viajar desde logo e apenas com um mapa na mão e uma mochila às costas. São aventureiros, destemidos, curiosos, confiantes, e acima de tudo são, uma grande inspiração para todos nós. 

Joana Oliveira e Tiago Fidalgo, um dia rumaram à aventura e foram ver o mundo. Não lhe deram a volta em 80 dias como o Phileas Fog de Júlio Verne ou o Willy Fog dos desenhos animados. Mas durante 16 meses percorreram 34 países, cerca de 50 000 quilómetros por terra e apanharam 512 boleias. Gastaram apenas cerca de sete euros por dia, e quando regressaram estavam ricos. Não pelo que pouparam, mas pelo que ganharam. Pelo que deram e receberam, pelo que aprenderam e ensinaram. Joana e Tiago, ela das Caldas da Rainha, ele do Painho, no concelho do Cadaval, ela terapeuta de Psicomotricidade, ele Mestre em Ensino da Educação Física, ela com 28 e ele com 27 anos, conheceram-se no Brasil num programa de intercâmbio. “Acabámos por nos conhecer por mensagens, com pedidos de conselhos sobre o clima de Florianópolis e depois, já presencialmente, na ilha. E fomos vizinhos por 6 meses.” 

Uma vizinhança que se transformou numa bela amizade, uma amizade que evoluiu para o romance. Não se estranha. Com tantas coisas em comum, Joana e Tiago só podiam estar mesmo destinados a correr para os braços um do outro, e juntos, a correr o mundo.



Qual dos dois teve a ideia de viajar dessa forma tão aventureira?

Joana- O Tiago!

Viajar foi um sonho tornado realidade?

Tiago- Foi, principalmente para mim, esta volta ao mundo nestes moldes.

Houve algum objetivo, propósito maior nas vossas viagens para tantos países?

Joana- O maior propósito era o de conhecer novas pessoas, com diferentes culturas, fruto de diferentes realidades. Procurámos sempre estar em real contacto com aqueles que nos rodeavam e ajudavam. Estar com os locais, viver como eles vivem, fazer como fazem. Perceber-lhes os hábitos, as tradições, os costumes.

Qual foi o país mais marcante que conheceram?

Tiago- Talvez o Turquemenistão: pelo contato com uma ditadura bastante fechada. Também a China foi marcante: recordamos com o emoção o dia em que lá chegámos! Dizíamos aos pulos e de sorriso no gosto “chegámos!!! Chegámos à China! Viemos de Portugal à boleia, até à China!”… parecia uma imensidão, como se depois não tivéssemos ido por terra até Singapura.
Temos também um top 6 de países/regiões de que mais gostámos:
A Turquia: que é lindíssima, com pessoas maravilhosas, lugares encantadores, uma língua única, comida fabulosa e super fácil para andar à boleia.
O Irão: que é deslumbrante, permitiu-nos ter o primeiro verdadeiro choque cultural (no bom sentido). Lá encontrámos o povo mais hospitaleiro de sempre, de uma bondade inimaginável. E depois com mercados deliciosos e comida vegetariana muito boa.
A Ásia Central: com especial foque para o Turquemenistão (onde como já referimos sentimos aquilo que é viver numa ditadura), o Uzbequistão (onde visitámos as cidades mais bonitas do mundo!!) e o Cazaquistão (onde tudo nos correu às mil maravilhas, com um anjo da guarda sempre por perto, de tal forma que até temos medo de lá voltar, porque foi mesmo fantástico!).

Joana- A Tailândia ocupa o 4º lugar: deslumbrante! Com paisagens incríveis, praias exóticas e pessoas muito dóceis. Por todo o lado conseguimos encontrar quem falasse inglês e andar à boleia foi extremamente fácil, correu sempre muito bem.
A China vem logo a seguir, pelas diferenças culturais que encontramos, pelas mil peripécias que lá vivemos e pelas saudades que sentimos da China no primeiro dia que cruzamos a fronteira para o país seguinte. É com muito carinho e nostalgia que recordamos os dois meses que passámos neste fantástico país.
Por fim, mas não menos importante para nós: a Nova Zelândia. Não há palavras porque é único. A natureza, as paisagens, as praias, as cascatas, as furnas, os vulcões, a vegetação, o clima, as pessoas, o mar, os rios, a cultura. Tudo é especial. E o "Tongariro Crossing" foi o que fizemos nos últimos dias no país e foi sem dúvida o melhor!
Ainda assim, importa referir que todos os países foram especiais e que, depois desta viagem, percebemos que o Arquipélago dos Açores são o nosso lugar favorito do mundo!



Como foi viajar gastando apenas 7 euros por dia?

Joana- Especial e genuíno, com muitas regras e uma premissa: as melhores coisas da vida são grátis. E nem sempre foi fácil, implicou sacrifícios. 

Algum de vocês tem medo de viajar de barco ou de avião? Se sim, de que forma é que esse receio condicionou as vossas viagens?

Tiago- A Joana tem medo de andar de barco e eu tenho medo de andar de avião. Não nos parece que estes medos tenham condicionado as nossas viagens, neste caso especifico, atrasámos ao máximo recorrer a barcos ou avião mas chegando a Singapura e depois a Timor-Leste não havia volta a dar... aí rendemo-nos às evidencias e o que tem que ser tem muita força.

Qual foi a experiência de que menos gostaram e não querem repetir?

Joana- A experiência que menos gostámos foi talvez pedir muitos vistos em embaixadas que muitas vezes não nos tratavam com o devido respeito. Não foi agradável mas possivelmente será uma experiência que iremos repetir, até porque é a única forma de entrar em determinados países.
Outra experiência que dispensamos repetir é a visita a hospitais, quando doentes. Aconteceu algumas vezes em viagem, sem perigo de maior. Mas são sempre momentos tensos, onde o pior nos passa pela cabeça. Ainda assim mantivemo-nos saudáveis, Ainda que tenham havido pequenos percalços. (E mesmo nós dispensando repetir estas experiências, reconhecemos que tivemos sempre muita sorte com todos os serviços que nos foram prestados! Desde o dentista no Irão, aos médicos na Indonésia!)


Encontraram gente hospitaleira que vos ajudou? De que forma?

Tiago- Sim, sem dúvida. A bondade e hospitalidade são transversais ao ser humano! Desde comida, a estadia, boleia e amizades momentâneas ou duradouras. 

Apanharam alguns sustos? Viveram situações de perigo? Se sim, quais?

Joana- Alguns sustos… Sem perigo! Mas houve uma ou outra boleia durante a qual nos sentimos mais desconfortáveis por não confiarmos totalmente no condutor; no final, felizmente, nada passou disso – desconforto.

Conheceram algum país onde gostariam de viver e trabalhar?

Joana- O Tiago gostou do Cazaquistão, eu não me imagino a trabalhar noutro país. 

Quais são as melhores recordações que guardam das vossas viagens e dos países que visitaram?

Tiago-Todos os dias da viagem vivemos histórias marcantes e que guardamos, de todos os lugares, cidades e países que visitámos. E as mais bonitas que guardamos prendem-se sempre com a generosidade humana e com a quantidade de vezes que fomos ajudados durante todo este tempo de viagem. Sem as pessoas que nos rodearam, jamais teria sido possível da forma que foi.
Por isso, guardamos pessoas, momentos, paisagens, sentimentos, lugares; por exemplo, uma semana passada em Erie Lake com a família que até então não conhecíamos; ou histórias que relatamos no blogue como: “Uma vez, estávamos no Uzbequistão, e já quase ao anoitecer, procurávamos nos subúrbios da cidade de Nukus por um lugar para montar a tenda. Perto de um rio onde avistámos crianças a saltar e nadar, elegemos aquele que nos pareceu o melhor sítio e, por educação, perguntámos a quem vimos por perto se haveria problema de ali pernoitarmos (valeu-nos ali - e sempre - a facilidade do Tiago em falar muitas línguas, sendo russo uma delas). Conversa para a frente, conversa para trás, e o senhor acaba por nos dizer que por ser mais seguro, poderíamos acampar no seu quintal. Assim sendo, mochilas novamente às costas, e lá seguimos o senhor. Já no seu quintal, enquanto abríamos as mochilas, desfazíamos a tenda, demos pela chegada faseada das crianças, vizinhos e pessoas do bairro: afinal, estavam dois estrangeiros ali. E riam-se todos muito, envergonhados e curiosos. Mas sem vergonha alguma aparece um senhor já mais velho, que com tanto de bêbedo quanto de generoso, nos disse que arrumássemos tudo pois iríamos para sua casa. E em nosso redor, diziam todos que sim, que isso seria o melhor. E fomos. Na sua casa, fomos recebidos como verdadeiros convidados e foi lá que ficámos 2 noites, com direito a tudo o que pudéssemos desejar. Mas guardamos ainda hoje a sua voz, embriagada e de volume elevado, enquanto repetia que deveríamos escrever nas nossas redes sociais que na sua casa era como na América, com vodka, coca-cola, ar-condicionado e internet WI-FI”.



Que conselhos dão a quem quiser embarcar numa aventura como a vossa?

Joana- Desconstruir as barreiras que, por outros ou até por nós próprios, são criadas à concretização dos nossos sonhos. Depois... Que vão! É o mais sábio conselho. 

Tiago- Arrisquem a concretizar os vossos sonhos. Depois planeiem: muito. Leiam, pesquisem, falem, procurem: porque viajar de mochila às costas é duro e por vezes difícil, e por isso convém estar já preparado de avanço para as adversidades: porque nunca somos os primeiros a visitar nada e por isso há sempre outros viajantes que já fizeram o nosso trajeto e já escreveram sobre isso. E depois, não deixem de viajar por uma questão de tempo ou dinheiro. Há sempre formas de contornar ambas. Aliás, costumamos dizer que há três fatores que definem uma viagem: tempo, energia e dinheiro. Uma pessoa com pouco tempo, tem de gastar muito dinheiro e tem de ter mais energia. Uma pessoa com pouco dinheiro, tem de gastar mais tempo e também mais energia. Se não tem energia, gastará mais tempo e mais dinheiro. Nós optámos por despender mais tempo e energia, gastando assim pouco dinheiro. 


Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia:Joana&Tiago
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste

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