Abril não foi “Águas Mil”
Desde 1931 que não havia um Abril tão quente!
O passado mês de Abril foi "extremamente quente e seco", em Portugal Continental, segundo avançou o Boletim Climatológico divulgado na página do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). O mesmo Instituto refere ainda ter sido registada uma onda de calor cujas temperaturas máximas foram as mais elevadas dos últimos 86 anos e informa também que em relação à precipitação, Abril classificou-se como o mais seco desde 1931.
A agricultura e as florestas em Portugal são particularmente vulneráveis às alterações climáticas, tendo uma dupla premência em estabelecer um trajecto que lhes permita fazer face ao desafio da adaptação às novas condições. Sendo atividades biológicas fortemente dependentes das condições climáticas, as projeções científicas para a região mediterrânica apontam para alterações do clima com efeitos muito nefastos no crescimento vegetativo e animal.
A Comissão Europeia reconhece que este é um desafio especialmente relevante em Portugal uma vez que a região mediterrânica é uma das que se prevê serem mais afectadas.
Não sendo novidade para ninguém que a agricultura é uma atividade altamente dependente dos factores climáticos, João Azevedo, engenheiro agrícola na Associação dos Produtores Agrícolas da Sobrena (APAS), confirmou ao JRO que a mudança no clima pode afetar a produção agrícola de várias formas: Mudança na severidade de eventos extremos, no número de graus-dia de crescimento devido às alterações na temperatura do ar, modificação na ocorrência e na severidade de pragas e doenças, entre outros.
No que diz respeito à Pêra Rocha, João Azevedo salienta que “As temperaturas altas têm diversas influências. Durante a fase de dormência das árvores (Novembro a Fevereiro) provoca a “falta de frio” (muito dias com temperaturas médias superiores a 7,2 ºC) com somatórios inferiores a 550 horas de frio. Deste modo, origina abrolhamentos tardios e desregulados (heterogéneo) cujas árvores ficam com várias gerações de idades de frutos na mesma árvore. Esta ocorrência gera problemas na colheita e conservação. Pois, surgem frutos maduros, em boa maturação e simultaneamente outros que ainda estão verdes e se misturam acarretando dificuldade na correta conservação dos mesmos e da sua seleção.” Para além destes problemas, João Azevedo aponta ainda o chamado “Stress hídrico mais intenso e recorrente, que gera a paragem do crescimento dos frutos (baixo calibre)”
A Apas que tem vindo a aumentar a percentagem da produção orientada para a exportação, tem como principais países recetores o Brasil, Inglaterra, Marrocos e França.
João Azevedo refere ainda que como em 2016 o volume de produção foi baixo, é previsto aumentar a exportação para 2017.
Sobre as principais dificuldades com as quais ainda se debate este importante sector agrícola, João Azedo é peremptório ao afirmar que ainda é preciso encontrar formas de evitar perdas durante a conservação dos frutos e que há falta de conservantes eficazes para conservações da pêra em longa duração (+ 4 meses).
O controlo de algumas doenças e pragas emergentes é outra das preocupações bem como a falta de água para o regadio. “Principalmente, agora com ciclos de seca mais frequentes.” Acrescenta.
A falta de acordos comerciais entre os diversos países que permitam o alargamento da exportação e os custos relativos à produção que crescem anualmente são mais alguns dos motivos pelos quais os produtores agrícolas em geral e os de pêra rocha em particular vêm com preocupação o futuro da produção.
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Internet
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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