Mulheres & Homens: Igualdade à vista?
“A mulher não foi feita para andar à frente ou para andar atrás, mas sim para andar ao lado.”
"Revolução em Dagenham", do título original Made In Dagenham, realizado por Nigel Cole em 2010, foi o filme escolhido para a primeira sessão de cinema que decorreu na Biblioteca Municipal do Bombarral e que deu o pontapé de saída para uma série de encontros/palestras sobre os direitos das mulheres, cuja organização cabe ao Pelouro dos Assuntos Sociais da Câmara Municipal do Bombarral, ao Núcleo de Intervenção Local para a Área da Violência Doméstica, (Nilavd), e ainda a Associação Igualdade.pt e a União Mulheres Alternativa e Resposta.
O filme que conta a história real de Rita O’Grady, interpretada por Sally Hawkins, operária da Ford, tem por título o principal nome da greve de 1968, ocorrida na fábrica de Dagenham – localizada em Londres, Inglaterra e narra a luta das operárias que almejavam igualdade salarial.
Sobre o tema, a vereadora dos Assuntos Sociais, Rosa Guerra, afirma que ainda há um longo caminho a percorrer em todos os parâmetros que envolvam a igualdade de género, desde o acesso a topos de carreiras preeminentemente ocupados por homens, quer mesmo ao nível da igualdade de salários. “ Quando falamos em determinados direitos, nós devemos estar em pé de igualdade com os homens. Não temos a mesma estrutura física que os homens para alguns trabalhos que exigem maior força física, logo não somos iguais. Somo diferentes. Mas em trabalho igual, o salário deve ser igual.”
Em todo o mundo, o número de homens excede em 62 milhões o número de mulheres, já que nascem mais bebés do sexo masculino que do feminino, segundo as Nações Unidas. Mas quando se trata da inserção no mercado de trabalho, há pelo menos 3,3 milhares de milhões de mulheres à sombra dos homens. Os seus direitos continuam a ser suprimidos e apesar do progresso nas últimas décadas, em parte, graças à luta incansável das ativistas, ainda há muito trabalho a fazer. Foram criadas leis específicas para proteger as mulheres que entretanto conquistaram alguns direitos como um maior acesso à educação, por exemplo. No entanto, alguns dos problemas que têm perseguido as mulheres ao longo da história continuam a existir.
Como atingir a igualdade de géneros? E em que áreas? A esta pergunta Rosa Guerra responde sem hesitações: “É preciso que os homens nos vejam como parceiras à altura de qualquer desafio, tendo sempre em conta as nossas características. Podemos não ter a mesma força física, mas somos igualmente inteligentes e capazes de tomar decisões. O mundo da política e o meio empresarial continuam a ser predominantemente masculinos”
Efetivamente, em 2016, a ONU revelou que apenas 17% de todos os ministérios em todo o mundo são chefiados por mulheres. E entre os parlamentares, elas também estão em desvantagem. São apenas 22% num universo em que a maioria são homens. “Ainda se atribui à mulher a responsabilidade quase exclusiva da educação dos filhos e embora a maternidade tenha vindo a ser cada vez mais auxiliada por uma legislação que concede ao pai os mesmos direitos nas licenças de parto, por exemplo, a verdade é que ainda é a mulher que fica em casa e esse é também um fator decisivo para que elas fiquem arredadas desses lugares.”
O cenário também é desanimador quando se analisam as posições de liderança: 11 mulheres atuam como chefes de Estado e 13 como chefes de Governo, segundo um último levantamento da ONU em Agosto do ano passado. “Neste estágio do desenvolvimento humano, não há justificação para tamanha desigualdade.” Refere a autarca.
Até mesmo o mais básico dos direitos políticos para as mulheres, o voto, ainda enfrenta empecilhos: na Arábia Saudita, por exemplo, as mulheres votaram pela primeira vez na história apenas nas eleições municipais de Dezembro de 2015.
Violência Contra as Mulheres
A violência contra as mulheres em relações de intimidade é a forma de violência mais comum no mundo inteiro. Trata-se da violação dos direitos humanos mais frequente. Desde a violência psicológica, física, sexual, coerciva e financeira, à perseguição e assédio, esta violência contra as mulheres evade-se muitas vezes do âmbito doméstico e invade também o contexto laboral. Todavia, as situações de mais difíceis resoluções são encontradas sobretudo no espaço íntimo e nestes casos qualquer ato de violência raramente é um ato isolado, sendo um processo contínuo e prolongado no tempo e na existência das relações de intimidade ou mesmo após o termo dessas relações. É um crime público.
Rosa Guerra afirmou ainda ao JRO ter ficado bastante surpreendida ao descobrir que no início do Séc.XX o Bombarral já tinha uma organização de mulheres dedicadas à luta pela igualdade e lamenta que nas sociedades do séc.XXI ainda sejam visíveis diferenças entre homens e mulheres sobretudo em contexto laboral.
“O avanço das mulheres e a conquista da igualdade entre mulheres e homens é uma questão de direitos humanos e uma condição para a justiça social.”
Sobre os novos movimentos feministas, a vereadora do pelouro dos Assuntos Sociais, destaca a necessidade de se eliminarem radicalismos, que entende serem prejudiciais à saudável coexistência entre os géneros. Uma maior abertura para garantir a todas as mulheres igualdade social, política, familiar e económica são, na opinião de Rosa Guerra essenciais para alterar drasticamente o cenário mundial, onde a desigualdade está por detrás das muitas dificuldades que enfrenta a atual agenda de desenvolvimento.
À sessão de cinema seguiu-se um debate com a moderação de Bruna Tapada, da Associação igualdade.pt e ainda a participação de Joana Sales e Carla Kristensen da União de Mulheres Alternativa e Resposta.
O próximo evento que incluirá mais uma vez a visualização de um filme cuja película a ser exibida envolverá a temática da Mutilação genital feminina.
Bobô é um filme português de 2015 do género drama, realizado e escrito por Inês Oliveira e Rita Benis e que narra parte do encontro de duas mulheres, Sofia e Mariama. O motor do filme é a sinergia criada entre ambas na defesa de uma criança. Sofia, a protagonista do filme, é uma personagem que vive presa nas sombras da sua infância, no peso da sua “herança", da qual é urgente libertar-se. Mariama aparece como alguém também ligada a essa "herança". Ela segue as regras que a sua pertença exige, mas num determinado momento vê-se obrigada a desobedecer para mudar o destino da pequena Bobô e evitar que esta seja submetida à mutilação genital feminina (MGF).
“A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço, para ser protegida e do lado do coração para ser amada.”
( Rabino Chelbo)
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto/ Internet
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste
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