Agosto- Mês de Reencontro

Emigrar VS mobilidade




Não existe família portuguesa que não tenha entre os seus membros quem preferiu deixar o país para encontrar fora dele melhores condições de vida. O desemprego é hoje, como na primeira vaga de emigração dos anos 60 o grande impulsionador do êxodo.

No pico da crise, entre 2011 e 2013, as taxas de emigração de portugueses atingem mais uma vez, níveis históricos. Tal como no final da década de 60 quando os valores registados davam conta de que cerca de 100 mil portugueses por ano deixavam o país, o último relatório do Observatório da Emigração mostra que se manteve em 2015 o mesmo número de saídas de Portugal para o estrangeiro registadas em 2013: acima das 110 mil por ano. Foi o recorde das partidas, com aeroportos cheios e muitas reportagens sobre o regresso do fluxo de emigração. Ainda não é possível garantir que o movimento estagnou ou diminuiu ligeiramente. Sabe-se apenas que não continuou a crescer mas a constatação do último Relatório da Emigração é, portanto, clara: “Mantém-se em valores da ordem dos observados nos anos 60 e 70. Portugal é hoje, de novo, um país de emigração.”




Para onde vão os portugueses?



Dos 23 países de destino para onde se dirigem mais emigrantes portugueses 14 são europeus. E entre os 10 principais só dois se localizam no continente africano: Angola e Moçambique. Desde a grande vaga de emigração das décadas de 60 e 70 que a França, com mais de meio milhão de portugueses (eram 606 897 em 2013), lidera a tabela de países do mundo com maior número de emigrados com nacionalidade lusa. É lá que se concentra a maior fatia de portugueses, fora de Portugal: ao todo, correspondem a 62% do número total de emigrantes, tal como a comunidade portuguesa é a maior, no grupo de imigrantes residentes em França. Segundo o mesmo relatório do Observatório da Emigração, "em 2015, saíram para França 18 mil portugueses" Percebe-se assim que as saídas para França voltaram a subir, transformando mais uma vez o país num destino importante para os que estão de saída, mas ainda assim, é o Reino Unido que parece estar agora no topo das suas preferências.
Contas feitas, emigraram, para as ilhas de Sua Majestade, 32 mil portugueses, em 2015. Seguem-se, como principais destinos, a França (18 mil, em 2013), a Suíça (12 mil, em 2015) e a Alemanha (9 mil, em 2015). Também a emigração para a vizinha Espanha tem subido, o que parece indicar que passada a fase mais negra da crise, que afetou sobretudo a área da construção civil, tem tendência a crescer.
Mas a presença da emigração portuguesa é ainda expressiva na Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos, Canadá, Áustria, Noruega, Itália, Suécia, Irlanda e Macau.

Portugal continua a ser, portanto, um país de emigrantes. Com casos mais ou menos felizes, os portugueses continuam a arriscar, por vezes tudo, para saírem do país. 

Quem é que não se lembra das famílias portuguesas, que acabaram a viver dentro dos próprios carros quando chegaram à Suíça em 2013 e não encontraram trabalho? Ou dos portugueses que chegados a Espanha foram apanhados numa rede de escravatura no ramo da construção civil?

Histórias que acabaram mal para quem ousou sonhar com uma vida melhor não faltam, e entre os emigrantes do Oeste, há delas que ninguém esquece.

No final dos anos 80,um grupo de 12 homens oriundos dos dois concelhos vizinhos, Bombarral e Cadaval, foram seduzidos pela ideia de melhorarem as suas vidas fora do país onde nasceram. Joaquim Ferreira Pinto, natural da freguesia de Peral, (Cadaval) fazia parte do grupo e a Suíça parecia-lhe a ele, tal como aos restantes, o destino perfeito para um salário mais gordo no final do mês. Contactados por outro grupo com ligações à região Oeste, foi-lhes prometido contrato de trabalho e alojamento. Deviam, cada um, pagar por esse contrato cerca de 150 contos e entregar o valor em dinheiro vivo, quando o comboio em que seguiam, os deixasse em Andaya (França) e uma carrinha, que haveria de chegar, os levasse dali para a terra prometida. Todavia, após uma noite passada na estação de comboios de Andaya, estes homens perceberam o logro mas já era tarde demais. Nenhuma carrinha chegou. No lugar dela, um automóvel de vidros esfumados, que não permitiam ver quem se encontrava no seu interior, chega pela manhã à estação ferroviária. O único homem que se abeirou do grupo exigiu-lhes a entrega dos valores sob ameaças de morte. O dinheiro acabava assim nas mãos do alheio, sem qualquer contrato de trabalho em troca. O sonho acabava ali e o regresso a Portugal era inevitável.
Felizmente, também há casos de sucesso. E são muitos os portugueses que com mais ou menos sacrifício, conseguem “vingar”, quando rumam ao desconhecido. É o caso de Cláudia Santos, emigrante em Angola. A empresária, casada e mãe de 3 crianças, nasceu em Chão de Sapo (Cadaval) em 1981, mas é em Talatona (Luanda) que reside há cerca de 5 anos. Hoje, considera-se uma empresária de sucesso em três ramos de atividade distintos: construção de piscinas e equipamentos “wellness”, e ainda lavandaria industrial. Cláudia Santos costuma viajar para Portugal de 3 em 3 meses, fazendo regressos curtos, mas indispensáveis para matar saudades, sobretudo da terra que a viu nascer.


Há quem vá, mas também há quem venha

Se a maioria dos portugueses que sai do país fá-lo para trabalhar, cada vez mais estrangeiros escolhem Portugal para residir, sobretudo, os mais velhos que encontram no país características aliciantes para gozar os anos de reforma com isenções fiscais, preços mais baixos e um clima agradável.

É o caso dos estrangeiros a viver em aldeias, vilas ou cidades da região Oeste. Nas Caldas da Rainha, até já há uma sala no posto de turismo onde se ajuda os novos habitantes que chegam à região. Há franceses, ingleses e holandeses espalhados por vários concelhos. Os mais escolhidos continuam a ser Caldas da Rainha, Óbidos e Lourinhã, devido às praias. São vários os que vivem, por exemplo, na Foz do Arelho, em São Martinho do Porto ou na Areia Branca. 
Keith Louis, um britânico de Liverpool escolheu esta zona do país por considera-la de certa forma paradisíaca, em particular a cidade onde reside (Caldas da Rainha) muito semelhante a Liverpool, segundo o próprio “com um charme e beleza especial ”. O britânico, agora com 85, já está em Portugal há 15 e é aqui que pretende ficar até ao seu último dia. Fez por cá amigos, aprendeu português, integrou-se na comunidade e aproveita o que ela tem de melhor, desde os eventos culturais à boa gastronomia.
Amelie e Patrick são um casal francês à beira da reforma. Compraram casa em São Martinho do Porto, uma zona com uma grande (e crescente) comunidade francesa. Tudo começou depois de verem um programa na televisão onde se falava de Portugal. Foram à internet, pesquisaram casas, planearam a viagem, vieram, adoraram "o mar, o sol e o vinho." De Portugal e da região Oeste gostam de quase tudo. Antes de se decidirem por S. Martinho do Porto fizeram uma viagem de Norte a Sul do país mas não gostaram nem de Lisboa nem do Algarve. A capital “é demasiado confusa e o Algarve tem muitos turistas”. Relatam.

Jean Pierre Hougas, Presidente da União dos Franceses na Região Oeste, sublinha que quem vem para aqui são pessoas que procuram o sossego, a segurança e o convívio com os vizinhos, algo que já não encontram em França. Ao mesmo tempo, ficam a uma hora de Lisboa, a poucos minutos de vilas ou outras cidades de média dimensão e também perto de castelos, conventos, cidades com história (Tomar, Batalha, Alcobaça...), do campo e de muitas praias. Segundo Jean, muitos franceses vendem a casa no país de origem por 200, 300 ou 400 mil euros e vêm para o Oeste onde compram outra igual ou melhor por pouco mais de 100 mil. O lucro é usado para "viver a vida" num país onde quase tudo é muito mais barato.

Agosto é mês de reencontro

Para a grande maioria dos emigrantes portugueses, agosto é o mês dos abraços aos familiares que não viram ao longo de um ano inteiro. Nos aeroportos há mais chegadas que partidas, e mais sorrisos do que lágrimas. E quando as há, devem-se às saudades, afinal, tão portuguesas.

Agosto, por tradição um mês de reencontro com os conterrâneos que partiram, prepara-lhes sempre várias receções de boas vindas. Um pouco por todo o país há festas e romarias e pelo menos, 1 vez por ano, respira-se Portugal a plenos pulmões. Os sons, os cheiros e os sabores, que encontram aqui em cada verão, não encontram em mais lado nenhum.

Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Internet

Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste

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