Entrevista a João De Carvalho
Filho de peixe sabe nadar
João de Carvalho é filho de Ruy de Carvalho e a influência do pai abriu-lhe os caminhos para uma vida em cima dos palcos. Mas não o manteve lá. A permanência e o sucesso já se devem ao génio e talento do ator que subiu uma vez mais ao palco do Teatro Eduardo Brazão no Bombarral para contracenar com Sofia Alves na peça “Porta com Porta”.
“Isto de ser ator ou nasce connosco ou não. Eu por acaso gostava de ter sido também outras coisas na vida e não fui por razões de saúde. Gostava de ter seguido a carreira militar. Acabei por ir para o teatro. Ser filho de quem sou ajudou-me a entrar. Não me ajudou depois a ficar. O teatro para mim é quase como a minha casa. Comecei a dar os primeiros passos na televisão. Comecei a fazer televisão tinha 4 anos. Foi uma coisa de criança. Cresci dentro do teatro e da representação.”
Sente-se a representação em teatro de forma diferente?
Sim, é completamente diferente. Há uma troca de energia entre os atores e o publico. O teatro é muito mais verdadeiro. Não há rede no teatro, não há o corta e grava outra vez, não se repetem as cenas, é tudo muito mais genuíno. Quando acontece um lapso de memória, “uma branca”, o tempo que levamos sem encontrar a palavra que nos falta parece-nos muito, mas são apenas alguns segundos e o público muitas vezes nem se apercebe. Claro que para isso é preciso que ator tenha uma boa capacidade de improviso.
O João tem também desempenhado um papel importante na vida política, nomeadamente enquanto vereador do pelouro da cultura da câmara municipal de Vila Franca de Xira. É fácil conciliar estes dois caminhos?
Não, não é nada fácil, mas fiz sempre o que pude. Muitas vezes as maiores dificuldades residem na conciliação do tempo. Os eventos culturais de uma câmara municipal acontecem muitas vezes ao sábado e é precisamente ao sábado que os atores têm muita ensaios e representações. Fácil não é, mas tenho consciência de que dei sempre o meu melhor. Hoje já não estou na vereação. Fui eleito para a Junta de Freguesia de Benfica ponde assumi o meu lugar como Vogal. Espero dar um contributo positivo no desempenho das minhas funções.
Enquanto político qual é a leitura que faz dos últimos acontecimentos em Portugal? Os incêndios e os consequentes constrangimentos para o governo...
Acho que é preciso vermos muito bem qual é a política florestal que temos e que queremos. O que se passou é o reflexo de muitos anos de incúria por parte de quem nos tem sucessivamente governado e também da nossa própria incúria, porque quer queiramos quer não, o povo acaba por ser de certa forma conivente com a inércia dos governos. Deixamos andar e temos que ser proactivos também na defesa do que é nosso.
E relativamente à demissão da ministra, considera que foi feito o que devia ter sido feito?
Vamos lá ver, eu não acho que a Ministra ou o Primeiro Ministro tenham culpa dos incêndios ou, até vou mais longe, das alterações climáticas que potenciam os incêndios, agora, acho temos que estar preparados para lidar com isso e portanto, sim, é culpa da ministra a forma como geriu o durante a após a catástrofe. É importante que se perceba que quem tem este nível de responsabilidade tem que ter especial cuidado com o que diz. Não pode passar esta imagem de indiferença, aliás, frieza, perante a morte de mais de 100 pessoas. Os portugueses têm sido em muitas matérias, sistematicamente mal tratados pelo seus governantes mas quando há perda de vidas humanas exige-se muito mais sensibilidade. Agora vamos ver como vai ser o futuro... acabam os fogos, vêm as inundações. Não há surpresa, todos os anos é assim e o que se faz de ano para ano para minimizar o problema? Nada.
E ainda relativamente à política, a Cultura continua a ser o parente pobre?
Sem dúvida. Sempre foi. Não me lembro de alguma vez Portugal não ter estado debaixo de uma crise qualquer e é sempre a cultura que sofre os primeiros cortes. É pena porque as consequências disso são gravosas para as pessoas. Nem só de pão vive o homem, não é? As pessoas também precisam de cultura, e aliás, estou convicto de que a cultura torna as pessoas melhores. Ainda se vão fazendo coisas e uma das mais valias para a cultura é exatamente o poder local. Veja-se aqui no Oeste, Óbidos, por exemplo. É um bom exemplo daquilo que se pode deve fazer culturalmente em todas as autarquias do país.
Voltando ao teatro, fale-nos um pouco desta peça “Porta com Porta” que vai estar em cena no Teatro Eduardo Brazão e na qual contracena com Sofia Alves.
Eu não quero desvendar muito porque estraga o efeito surpresa, mas posso revelar que se trata de uma comédia à americana divertida, escrita por Lázaro Matheus e que mostra como às vezes não calha bem a convivência entre vizinhos. Penso que o público do Bombarral vai gostar até porque há aqui uma franja da população que gosta muito de teatro. Gosto sempre muito de cá vir. Sinto-me sempre bem-vindo.
“Porta com Porta” é a peça de teatro autoria de Lázaro Matheus e direção de Celso Cleto onde contracenam Sofia Alves e João de Carvalho.
SINOPSE
Rute, uma mulher independente com cerca de 40 anos, resolve comprar um apartamento novo num edifício de prestígio.
Mas na euforia de conseguir mais um passo na sua independência acontece algo que não estava planeado e que ela não vai conseguir controlar… Tony.
Tony é o proprietário que vai ocupar o apartamento do lado, Porta com Porta.
De facto, Tony com cerca de 55 anos está muito longe de ser o vizinho ideal para Rute… E os problemas acontecem logo no primeiro encontro.
Texto: Ana Cristina Pinto
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste
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