Pão de Ló da Ti' Piedade
Carlos Miguel Henriques
Formou-se em engenharia agronómica, tem uma exploração com perto de 40 hectares de pera rocha e desde 2008 que é Presidente da Administração da Central de Frutas do Paínho. Mas Carlos Miguel Henriques tem ainda outra missão na vida, para além daquela que lhe incumbe a agricultura. Levar mais longe o nome da avó, Piedade da Silva, a mulher que a meio do SEC.XX, sem o saber, criou uma receita única de Pão de Ló. O legado da Ti' Piedade é agarrado por Carlos Miguel com audácia e determinação. Valeram-lhe a visão empresarial e o instinto empreendedor para transformar o que era antes um pequeno negócio de família numa marca bem sucedida e reconhecida dentro e fora do país. Hoje, o Pão de Ló da Ti' Piedade é o único em Portugal com marca certificada. A fábrica onde se produzem os deliciosos bolos tradicionais situa-se na aldeia do Paínho-Cadaval, e foi aí que o Jornal Região Oeste foi encontrar o guardião do segredo mais doce do concelho.
O Pão de Ló da Ti' Piedade é como o nome indica uma criação da sua avó. Como é que tudo começou?
A minha avó era uma pessoa extraordinária e fazia muito bem o Pão de Ló. Este doce é uma tradição do Oeste, mas o dela distinguia-se pela textura cremosa, muito apreciada, sobretudo nas épocas festivas. A ideia de comercializar esta receita surgiu através do meu pai que era bancário em Lisboa e também um excelente comercial. Na altura, pediu à minha avó para fazer alguns que ele ia dando a provar nas melhores confeitarias de Lisboa. Rapidamente conseguiu criar uma rede de distribuição na capital. Durante muito tempo, o Pão de Ló era distribuído dois dias por semana até que se criou a fábrica, o negócio começou a expandir-se e mais tarde o meu pai saiu do banco e dedicou-se em exclusivo ao negócio.
Começou assim um negócio de família em volta de uma receita única. O Pão de Ló da Ti' Piedade é diferente de qualquer outro...
Sim, existem outros produtos semelhantes mas com estas características não existe mais nenhum. Introduzimos algumas melhorias, mas a receita continua a ser a original. Usamos, por exemplo, ovos de lotes de fornecedores específicos, evoluímos a marca e a empresa, mas o produto mantém todas as caraterísticas originais do bolo caseiro que a minha avó criou.
Mas há aqui inovações a que os consumidores não estavam habituados, nomeadamente, a inclusão da canela ou do chocolate... Estes novos sabores ainda conquistaram mais fãs para a marca...
Sim, peguei no negócio em 2007 e de imediato fiz uma parceria com uma empresa de marketing. Do plano estratégico para a empresa nasceram as novas embalagens, uma nova imagem, e decidimos fazer também algumas inovações ao produto. O chocolate e a canela são algumas dessas inovações mas temos outras que vamos lançar em breve.
E que novidades são essas?
Vamos lançar, por exemplo, o pão de ló de café, o gelado de pão de ló...temos que dar os passos certos, mas com calma.
Costuma-se dizer que “O segredo é a alma do negócio”. Todos os trabalhadores da fábrica conhecem a receita na íntegra ou isso é privilégio de apenas alguns?
Em cada zona de fabrico há uma pessoa chave que conhece a receita na totalidade, os restantes não.
E o Carlos Miguel agarrou neste negócio de família, como? Foi sempre o seu objetivo agarrar no legado da sua avó e fazê-lo crescer?
A minha formação é na área da engenharia horto-frutícola. Em paralelo com o negócio do Pão de Ló também tenho o da Pera Rocha e foi neste ramo que comecei a minha vida profissional. Eu fui criado em Lisboa mas vinha sempre ao Painho nos fins de semana. Quando o meu pai adoeceu eu comecei por lhe dar mais apoio e quando faleceu assumi a empresa e incuti-lhe mais profissionalismo e eficácia. Em 2011 fizemos investimentos na fábrica e começamos a exportar o produto congelado o que lhe dá 1 ano de validade. Na mesma altura entrou para os quadros a minha a mulher, Ana Filipa Martins, que passa a ocupar-se dos contactos e vendas para o mercado externo.
O Pão de Ló da Ti' Piedade exporta já para quantos países?
Agora para 12. Canadá, EUA, França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Moçambique, entre outros. Atualmente, cerca de 15% das vendas são para o mercado externo.
Quantos pães de ló fazem por dia?
No tamanho tradicional, fazemos entre os 1000 e os 1500. Nos uni-dose, seguramente muitos mais. Quando agarrei no negócio, o Canal Horeca, representava para nós cerca de 6% da faturação e hoje anda perto dos 50%. É por isso um canal que nos interessa expandir.
E vendem também para os supermercados...
Sim, é um negócio que também nos interessa manter e que está sempre a crescer. O volume de vendas que gera é bastante positivo. O Pão de Ló da Ti' Piedade está por todo o país e em todas as lojas.
A empresa dá emprego a quantas pessoas?
Temos 25 trabalhadores efetivos, mas precisamos sempre de reforços ao longo do ano para fazer face ao volume acrescido de vendas que resulta de épocas festivas, como o Natal, por exemplo. Só para ter uma ideia, o mês de dezembro representa 3 meses do resto do ano. O trabalho triplica.
Estamos perto do Natal, qual é o volume de vendas que espera fazer nesta quadra?
Prevemos que até ao Natal, vamos vender cerca de 60 mil unidades de bolos de 500 gramas.
Portanto a ideia é mesmo continuar a crescer. Tem filhos?
Sim, mas são pequeninos ainda.
E espera passar esta empresa aos seus filhos quando eles crescerem?
Se eles gostarem, por que não? Eu gostava, mas o futuro é deles.
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Rui Viola
Fotografia: Rui Viola
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
www.facebook.com/JRO-Jornal-Região-Oeste
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