Ricardo Ribeiro, o Homem ao leme da Óbidos Criativa


“Queremos internacionalizar uma marca de Óbidos com produtos de Óbidos.”
Foto de JRO - Jornal Região Oeste.
Ricardo Ribeiro é a figura central da Óbidos Criativa, a Empresa Municipal de Óbidos que trabalha diariamente na organização e gestão dos mais variados eventos. Semana Santa, Festival do Chocolate, Óbidos Vila Natal, entre outros.


Para trás ficou já mais uma edição do Vila Natal que segundo o responsável, arrancou com um número de visitantes acima dos 30% face ao início do evento em 2016, mas que acabou por terminar com valores equiparados aos da edição anterior, uma vez que a chuva fez-se presente no final do mês de dezembro. Ainda assim, Ricardo Ribeiro garante que o evento teve resultados muito positivos. O Óbidos Vila Natal é o maior evento que a empresa municipal organiza, quer em termos orçamentais quer no número de visitantes, ou mesmo no número de dias. Mas a empresa municipal não se esgota e as novidades somam e seguem. Para a próxima edição do Festival do Chocolate está prevista a criação de um chocolate exclusivo de Óbidos e estuda-se a possibilidade de trazer a sua produção para o concelho e ao fim de praticamente 15 anos, a Óbidos Vila Natal, acabou por assumir o calendário nacional de eventos natalícios e não foram só os portugueses que rumaram à Vila. Também os espanhóis o fizeram.




“Havia dias em que ouvíamos falar mais espanhol do que português. Apostámos na divulgação na zona raiana, Beira Alta e Beira Baixa, e também em Madrid. Fizemos campanhas de outdoors, jornais e redes sociais. Foi uma aposta ganha porque os espanhóis tal como os portugueses têm períodos de férias que fazem parte do calendário anual, o que lhes permite deslocarem-se com mais facilidade.”


E quem veio em anos anteriores continua a querer vir?

As pessoas continuam a vir e a regressar. O ano passado batemos records de bilheteira e este ano acompanhámos, o que nos deixa muito orgulhosos, mas também preocupados com o que poderá ser o futuro do evento. Estamos atentos às necessidades dos visitantes e também à responsabilidade social que a empresa tem, através das temáticas que abordamos e que queremos vir a abordar no futuro, em função daquilo que são os níveis de sustentabilidade do evento, numa perspetiva também cultural e ambiental. São preocupações que temos, mas os resultados deixam-nos otimistas e mostram-nos que estamos no bom caminho.

O patrocínio da Coca-Cola não ofuscou aqui o espírito natalício tornando o evento demasiado Coca-Cola?

A Coca-Cola é um patrocinador, que à semelhança de todos os outros que têm passado por Óbidos, são peças muito importantes para nós e que nos permitem oferecer mais a quem nos visita. Aquilo que nós procuramos fazer com as verbas dos nossos patrocinadores é reinvestir no próprio evento, e não apenas retirar lucro, até porque muitos dos nossos patrocinadores fornecem em géneros.
Agora, verdade seja dita, eu não vi grandes diferenças entre a presença da Coca-Cola, neste ano, e a Mercedes Benz no ano passado. Portanto, em termos de divulgação de imagem, esteve mais ou menos equiparada. Além disso, estamos a falar de uma bebida perfeitamente aceite pela sociedade ocidental, uma bebida que a esmagadora maioria das pessoas consome. Janeiro e fevereiro são meses em que a empresa vai avaliar se foi ou não compensador o que investiu neste patrocínio e com isso, serão também avaliados os patrocínios no futuro.

Há então a possibilidade da Coca-Cola voltar a patrocinar a Vila Natal no próximo ano? 

Nós gostaríamos muito porque com mais verbas também podemos investir para receber melhor quem nos visita.



Não receia que o público considere esta forma de celebrar o Natal demasiado pagã?

Não. Procuramos ter um Natal pagão porque é aquilo que atrai a maioria das pessoas, mas não esquecemos o lado religioso. Temos o presépio no Terreiro da Pousada, que representa a religiosidade do Natal, mas se formos honestos intelectualmente, sabemos que quem criou o Pai Natal foi a Coca-Cola. E o Natal não é o mesmo para todas as famílias. Há famílias que não têm as figuras religiosas como parte integrante do seu Natal. Há famílias que celebram um Natal absolutamente pagão, com muitas prendas, muito consumo. Se nós fizéssemos um Natal meramente religioso, provavelmente não teríamos a afluência que temos. Procuramos dar às pessoas aquilo que elas procuram, mas isso não nos desobriga de passar a mensagem de Natal, em função daquilo que são as nossas responsabilidades ambientais e sociais. Nas componentes sociais, apoiámos uma associação que veio angariar fundos para o tratamento do cancro,especificamente o cancro da mama, e tivemos uma parceria com Vouzela, na angariação de fundos para minimizar os efeitos dos incêndios. Neste momento, Vouzela, Oliveira do Hospital e outros concelhos da região centro, estão completamente pintados de negro e nós quisemos fazer a imagem de um jardim em que a mensagem foi precisamente “Vamos voltar a florir Vouzela”. Fazer caridade é algo que consideramos muito nobre, mas não gostamos da ideia da caridadezinha, e por isso também não gostamos de divulgar tudo o que fazemos, mas uma das coisas que fizemos e que nos deu muito gosto, foi trazer os alunos do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, gratuitamente, a ver a Vila Natal. O Natal que nós procuramos fazer aqui é um Natal com muita cor e alegria.

Qual foi o investimento da Coca- Cola na Vila Natal?

O orçamento da Vila Natal situou-se nos 250 mil euros e o patrocínio representou cerca de 10% deste valor.

E em termos de bilheteira foi compensador?

A bilheteira rendeu mais de 600 mil euros. Este evento, tal como o Festival do Chocolate e o Mercado Medieval, tem que ser lucrativo, porque se não for, por muito sucesso que tenha, não conseguimos equilibrar as contas para fazermos a Semana Santa, por exemplo. O Fólio, que tem um programa riquíssimo e que atrai muitas pessoas, também não está a dar lucro ainda. Portanto, se estes eventos não forem lucrativos, hipotecamos também a nossa vontade de continuar a organizar os que ainda não são.
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E agora vem aí outro evento igualmente mediático mas ainda mais doce. A 16.ª edição do Festival do Chocolate. 200 mil euros é o orçamento previsto para o Festival do Chocolate que decorrerá ao longo doze dias. A edição de 2016 contou com cerca de 60 mil visitantes, e este ano, a expetativa é manter esse número. “Alterações Climáticas” é a temática desta edição. Porquê este tema?

Porque vai de encontro às nossas preocupações do momento. Tivemos a conferência de Paris no final do ano, portanto, este é um tema que está na ordem do dia e cabe também à empresa municipal do ponto de vista daquilo que é a componente formativa e educacional, pegar numa coisa de que todos gostamos: o chocolate, e através dele chamar a atenção para a preservação do planeta. Através dos três R’s: Reduzir, Reciclar, Reutilizar, queremos dar essa componente formativa à população e a todos aqueles que visitarem o evento.Vimos representações de alguns ícones e símbolos daquilo que têm sido as boas práticas e também as situações mais preocupantes como o aquecimento global, a desertificação, espécies em vias de extinção, eventualmente por causa dessas alterações climáticas, e resolvemos abranger o leque também à região, lembrando algumas espécies que já não existem, e nós não sabemos se o desaparecimento delas se deve ou não às alterações climáticas. Falo dos dinossauros, tão presentes na nossa região. Damos assim o mote para algo que há de muito importante na Região Oeste, o Museu da Lourinhã. Temos a opinião de que se a região estiver mais forte, nós também ficamos. Não ligamos muito às fronteiras dos municípios, pelo contrário, achamos que devemos apostar naquilo que temos de muito bom, enquanto região, e não apenas enquanto concelho. 

Têm vindo a mudar o conceito do evento desde as origens iniciais do mesmo?

Sim. Há sempre evolução. Na edição deste ano vamos ter como país convidado, o principal produtor de cacau do mundo, a Costa do Marfim, que produz 40% do cacau produzido no planeta. Vamos manter o patrocinador do ano passado para as esculturas, a Eureka, uma empresa sediada em Madrid e que tem uma parceria com o museu do chocolate da América Latina pelo que estarão presentes mais cinco ou seis produtores de chocolate dessa região do continente americano.
Para fechar o ciclo, o Diretor do Festival do Chocolate é brasileiro, ex-vencedor do Festival do Chocolate numa das nossas edições, o ano passado foi diretor e voltámos a convida-lo este ano. Já está a trabalhar connosco na residência criativa em Óbidos, onde estão a ser produzidas as esculturas de chocolate. De resto, teremos os habituais workshops de doçaria, passagem de modelos de chocolate, que gostaríamos que acontecesse na semana que antecede a abertura do festival, de forma a que, os vestidos fiquem em exposição ao longo de todo o evento. Vamos ter também as escolas a participar, a Escola de Hotelaria e Turismo das Caldas da Rainha, o nosso agrupamento tem um curso técnico-profissional de cozinha que também estará presente, o IPL, e convidamos todos aqueles que trabalham o chocolate, pequenas empresas, familiares e artesanais, porque o chocolate não é apenas para os grandes produtores mas para todos aqueles que gostam de trabalhar nesta área. Por último,
estamos a pensar lançar o chocolate de Óbidos na próxima edição, com produtos endógenos da nossa região. Será um produto específico de Óbidos que mais tarde logo se verá se avança ou não para a marca certificada. Para já, o nosso Chef está a desenvolver uma receita que
iremos tentar produzir, transformando-a num produto exclusivo de Óbidos.

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O lançamento desse chocolate de Óbidos vai ocorrer durante o Festival do Chocolate?

O lançamento poderá ocorrer durante o evento ou poderá acontecer antes num grande evento de pré-lançamento em Madrid.


E como se vai chamar este chocolate?

Ainda não sabemos qual vai ser o nome deste chocolate. Ainda não pensámos nisso. Primeiro, queremos perceber se é possível produzir a receita em grandes quantidades.

Estamos a falar de uma produção em Madrid dos primeiros lotes e depois? Posteriormente a produção será feita aqui em Óbidos, ou não?

A fábrica é em Espanha mas há a possibilidade de se internacionalizar e vir aqui para a nossa região. Se tal acontecer, fará todo o sentido, uma vez que haverá necessidade de transportar os nossos produtos, que ela se implante aqui, e os chocolates sejam produzidos aqui para depois serem comercializados em todo o país e também na Península
Ibérica. A concretizar-se será uma mais-valia para a criação de emprego na região… Sem dúvida, e esse é o nosso desejo. Queremos internacionalizar uma marca de Óbidos com produtos de Óbidos. A ideia é conseguirmos fazer uma ou duas receitas já para esta edição e todos os anos lançar mais um ou dois produtos novos para criarmos uma coleção de produtos típicos de Óbidos e da região. Temos uma grande receita, um grande Chef e tenho a certeza que teremos também um produto de grande qualidade.


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Outro evento que atrai milhares de visitantes é a Semana Santa. Juntar o chocolate à Semana Santa não seria uma boa ideia do ponto vista comercial?

Podia ser interessante do ponto de vista comercial e todos os anos falamos nisso, mas não me parece que seja uma boa ideia. Temos dois produtos muito bons que são o Festival do Chocolate e a Semana Santa. Misturar os dois eventos é darmos cabo de um evento muito
importante para Óbidos, muito religioso e que queremos que se mantenha assim. Há muita gente a visitar Óbidos nessa semana e termos uma programação paralela e completamente antagónica, era estar a destruir aquilo que nós achamos que deve ser a Semana Santa.
A Páscoa tem uma carga dramática que não é compatível com a festa do Festival do Chocolate.
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Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto/ CM Óbidos

Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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