O Reflexo no Espelho (Parte II)
À medida que a primavera se vai aproximando, começam as corridas desenfreadas aos ginásios. A busca pelo corpo perfeito dita a perda dos quilos que o inverno deixou acumular. Vislumbra-se, (ainda que ao longe) a praia, o tempo quente e a necessidade de menos peças de roupa. A partir de março e abril, são cada vez mais os portugueses que se rendem à prática do exercício físico, quer ao ar livre, quer nos ginásios.
"A procura aumenta sobretudo a partir de março.” Diz-nos Adriano, responsável pelo Ginásio Conquista no Cadaval. Curiosamente, aqui, não são as mulheres que procuram mais a atividade física em contexto de ginásio, (40% mulheres e 60% de homens), embora sejam elas que mais se preocupam com a perda de peso e são também elas quem mais frequenta aulas de grupo. A celulite ainda é dos piores inimigos no universo feminino. O proprietário do Conquista refere ainda que “não temos acompanhamento de nutricionista porque tal não se justifica num meio tão pequeno que tem esse serviço a funcionar noutros organismos dentro da própria vila, mas quando é necessário aconselhar no que diz respeito aos hábitos alimentares também estamos cá. Recomendamos sempre que se evitem os alimentos que já todos sabemos que são nocivos para uma alimentação equilibrada: açúcares, gorduras, há muito o hábito de consumir sobretudo fritos e nós desaconselhamos de todo. Não é difícil perceber que os legumes, as verduras, hidratos q.b, e proteínas, são muito importantes na alimentação. O ideal é saber dosear.”
Portugal está a aproximar-se da média europeia relativamente à frequência de ginásios, ainda que nem todas as pessoas tenham uma profissão que lhes permita um horário regular para os frequentar. Normalmente, este é um dos motivos apresentados por quem resiste à pressão de um corpo perfeito e tem preguiça de se exercitar. Contudo, apesar da força de vontade, há também quem não consiga pagar a mensalidade de um ginásio. As mensalidades, que tanto no MaisFitness como no Conquista, não vão muito além dos 30 euros, são para muitas pessoas, um verdadeiro obstáculo à prática de exercício físico. Por isso, perguntámos a Sara, responsável pelo ginásio MaisFitness no Bombarral, se esse é um argumento muito usado por quem não quer fazer a ficha de inscrição. “Aqui as pessoas argumentam mais com a falta de tempo, mas sabemos que a falta de tempo é a desculpa usada para mascarar muitas vezes a falta de dinheiro. As mensalidades não são caras, mas a questão aqui prende-se mais com aquilo que as pessoas realmente valorizam. Se o que valorizam mesmo é a saúde, a boa forma física e mental, então elas preferirão, até, poupar algum dinheiro abandonando hábitos que não lhes acrescentam nada. Seja como for, andar a pé, correr, subir escadas ou praticar outras atividades que nos façam mexer são alternativas saudáveis para o bem- estar físico e emocional. Quando não é possível frequentar um ginásio, que se faça ao menos isso. É melhor que nada”. Acrescenta.
Os efeitos da crise parecem ser cada vez menores e os dois ginásios contactados pelo Jornal Região Oeste, têm vindo a aumentar a sua carteira de clientes. Por sua vez, Sara explica que "as pessoas não procuram o treino 'outdoor' em detrimento do ginásio, havendo sim, mais pessoas a fazerem actividade física, numa luta contra o sedentarismo”. O próprio MaisFitness promove também aulas ao ar livre aproveitando as boas condições climáticas da região, principalmente no verão, que é precisamente a altura do ano em que os ginásios registam "uma natural quebra", devido à abertura da época balnear. Nessa altura, a corrida e as caminhadas passam a ser as atividades de eleição da maioria das pessoas.
"Cada vez mais, vemos pessoas a fazer exercício físico ao ar livre, nomeadamente corrida, o que há alguns anos atrás era impensável".
Ainda assim, a polivalência de opções que se pode encontrar nestes dois ginásios do Bombarral e Cadaval, a complementaridade dos exercícios, a diversidade que se pode combinar, inclusive com as várias alternativas ao ar livre fazem com que homens e mulheres de praticamente todas as faixas etárias optem por educar o corpo com a ajuda de quem sabe o que faz quando se trata de exercício físico. Tanto o Ginásio Conquista como o MaisFitness têm entre os seus clientes homens e mulheres com mais de 60 anos.
Para Adriano, “a corrida ao ar livre fomenta a prática de exercício no ginásio e não o contrário e há vários fatores que não são conseguidos no treino na rua, como por exemplo, o reforço muscular e articular e ainda a prevenção de lesões".
Mesmo assim, e apesar do aumento de frequentadores assíduos de ginásios ainda é reduzida a percentagem de portugueses que pratica exercício físico em ginásios e a descida dos preços das mensalidades está a tornar o mercado cada vez mais interessante, não só para as grandes cadeias internacionais como para os empresários locais. Isso mesmo foi o que o Região Oeste apurou numa consulta ao site da Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP).
Os ginásios com um posicionamento exclusivo e, consequentemente mais caros são um caminho oposto, mas que está a contribuir para o aumento do negócio. Fora dos dados oficiais, e impossível de contabilizar, está o número crescente de pessoas que pratica exercício físico ao ar livre, desde os que fizeram esta escolha em troca do ginásio, como forma de poupar, até aos que, de facto, preferem as atividades como a corrida. Em pontos opostos estão os ginásios com preços mais baixos, sem toalhas, piscina, sauna ou banho turco, e aqueles que são a nova tendência a nível mundial. Estes últimos, assumem-se como ‘boutiques fitness’. Distinguem-se por se especializaram em determinadas áreas de exercícios, por exemplo em bicicletas, e pelo serviço de valor acrescentado, como oferecer cremes ou ter um DJ a pôr música nas aulas. Com tendência para desaparecer estão os tradicionais ginásios de body-building, mais direcionados para o treino de competição, devido a alterações no tipo de exercício físico procurado. Aqui, os treinos são mais direccionados para a preocupação com o ganho de massa muscular em detrimento da saúde e bem-estar.
Apesar da crise, o número de clientes dos ginásios tem vindo a aumentar nos últimos anos, e segundo os últimos dados disponíveis pelo barómetro realizado para a AGAP, o número de aberturas de ginásios aumentou 14% e a mensalidade média apurada foi de 35,48 euros. O volume de mercado é estimado em 214 milhões de euros para um mercado de 530 mil clientes e é composto por 1.100 empresas.
Os principais operadores do mercado português em 2016 eram o Fitness Hut com 25 ginásios, Holmes Place com 19 e Solinca com 16. Além disso, a Vivafit mantém 25 franquias. As dez empresas líderes possuem 126 ginásios no total ou seja, 11% da quota de mercado em ginásios, mas mais de 50% em sócios. Pela primeira vez, atesta-se que 35% dos ginásios trabalham no segmento Low-cost, com mensalidade igual ou inferior a 29,90 euros e apenas 5% no Premium, com mensalidades acima dos 55,00 euros.
Texto: Ana Cristina Pinto
Fotografia: Ana Cristina Pinto/ Internet
Fotografia: Ana Cristina Pinto/ Internet
Artigo publicado no Jornal Região Oeste
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